Papo Reto
Manoel Soares: "Deficiência é não ter nada que impeça e, mesmo assim, não ir à luta"
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
Tive a alegria de conhecer nesta semana um motorista de aplicativo que é surdo. Matheus tem 25 anos e é surdo desde os primeiros 10 dias de vida. Ele usa placas com frases de perguntas e respostas para se comunicar com os passageiros. A mãe dele, dona Lilian, me contou que antes de virar motorista de app ele estava em casa deprimido, há dois anos sem emprego.
Isso me botou para pensar como reduzimos pessoas com algum tipo de deficiência ao seu problema. Às vezes parece que eles não têm identidade. Olhamos e concluímos algo sem nem sabermos se é mesmo.
Quando este rapaz surdo me contou que gostava de samba, tive a cara de pau de perguntar como ele sabia diferenciar samba e funk. Foi então que ele me contou que sentia a vibração dentro do carro. Eu nunca parei para pensar que, quando o alto-falante de toca uma música no carro, as vibrações do samba e funk são diferentes.
Eu não o chamaria de pessoa com deficiência, mas de eficiente, por ele e tantos outros conseguirem coisas que nós não conseguimos. A audição dos cegos é mais apurada do que a de quem vê. Os braços de um cadeirante são mais fortes do que os nossos. O olfato de um surdo é mais apurado, e por aí vai.
As pessoas com deficiência desenvolvem seus sentidos para compensar o que falta. Cegos são aqueles que não veem o potencial deles, surdos são os que ouviram milhares de histórias de sucesso e ainda os trata como coitadinhos, cadeirantes são os que podem andar e não fazem nada com essa possibilidade. Deficiência é não ter nada que impeça e, mesmo assim, não ir à luta.