Papo reto
"Não era só folia", afirma Manoel Soares
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
Escrevi um texto na Zero Hora descrevendo minhas inquietações com a ausência dos desfiles de Carnaval de Porto Alegre, e algumas pessoas se morderam. Primeiro, entendo discordarem de mim, não sou nota de cem reais pra todo mundo me querer por perto. Porém, não vou ignorar a tristeza de pessoas que tinham a tradição do Carnaval da Avenida.
Se hoje não temos Carnaval, é graças a uma insensibilidade coletiva. Políticos não viram como esta tradição cultural serviu de alicerce para talentos como médicos, advogados, psicólogos entre outros. Sim, porque foi por meio da disciplina da bateria ou da ala de passistas que muitas crianças tiveram o primeiro contato com responsabilidade e o respeito.
Porém, não são só os políticos, muitos presidentes e coordenadores de escolas de samba encheram os bolsos com a grana que era para dar qualidade às fantasias e um salário digno aos trabalhadores de barracão. Empresas que poderiam ser parceiras das escolas preferiram bancar os blocos de rua, que hoje são mais fortes do que a tradição da Avenidas.
Agonizante
Escolas de samba davam espaço para os artistas, os estudiosos e os pensadores da favela. Sustentavam projetos o ano todo que atendiam a crianças e a adolescentes na nobre arte carnavalesca. Existia um Carnaval que ia além da folia, que era educativo e pedagógico. Este Carnaval foi ignorado e, agora, agoniza para não morrer. Acredito na possibilidade de um dia ver a cidade eufórica com os duelos das escolas e o bradar da campeã. Aos que, como eu, sonham com esse dia, meu respeito e carinho.