Coluna da Maga
Magali Moraes e os leitores de notícias velhas
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não confunda com quem gosta de folhear revista antiga em salão de beleza ou sala de espera de médico. Nesse caso, a intenção da pessoa é distrair os olhos. E convenhamos: é sempre divertido achar fotos do Tony Ramos ainda guri, numa novela que já reprisou cinco vezes. Mas não. A coluna de hoje é sobre os leitores que fazem questão de ler notícias que perderam o prazo de validade. Que são curiosos mesmo assim. E não conseguem ir pra cama antes de ler todo o jornal do dia, tarde da noite.
Uma olhadinha nas manchetes, que seja. É força do hábito, não é saudosismo. Sei porque também sou assim. Quando chego em casa esgualepada e o jornal segue dobrado em cima da mesa, parece que falta algo. Preciso concluir essa parte da rotina, por mais que eu já tenha visto a maioria das notícias na internet ao longo do dia. Com ritual de leitura não se brinca. A gente ainda quer achar algo interessante pra ler. Um dia não termina oficialmente com o jornal intacto em cima da mesa.
Trem-bala
São as notícias que envelhecem rápido demais ou é o dia que passa voando feito trem-bala? Faz diferença saber a previsão do tempo se logo mais o sol nasce de novo? Ora, os leitores de notícias velhas são criaturas teimosas. Querem confirmar se choveu conforme o previsto. Se o resumo das novelas estava certo. Se sobrou oferta escondida nos classificados. Gostam de reler a manchete da capa, a matéria inteira e ter um tempinho pra refletir.
Por favor, nunca julgue um leitor de notícias velhas. Temos o direito de ler mais a fundo sobre um fato que marcou o dia. Podemos inclusive fotografar uma página do jornal pra guardar ou passar adiante. Em tempos de leitura-relâmpago na internet, isso é um ato de resistência. E amanhã podem acontecer notícias bem piores. Melhor achar alguma boazinha pra ler agora e acalmar o coração. Sinto informar que o tempo vai seguir passando rápido. Cabe a nós enlouquecer entrando no ritmo dele. Ou não.