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Atletas da periferia de Gravataí buscam ajuda para participar de competição nacional de tae-kwon-do

Sete competidores vão participar de disputa no Rio de Janeiro entre os dias 14 a 18 de agosto

01/07/2019 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Treinos iniciaram em garagens na periferia de Gravataí

Eles cresceram em comunidades carentes de Gravataí, começaram a treinar  tae-kwon-do em garagens e agora estão a um mês e meio de enfrentar um campeonato nacional do esporte. A trajetória desses atletas se cruzou por meio do projeto social Emancipa Gravataí, que possui núcleos de treinamento gratuito em bairros de alta vulnerabilidade social. 

Após conquistarem a vaga na seleção gaúcha, em 15 de junho, o grupo foca agora no Campeonato Brasileiro de Taekwondo, que é a maior competição nacional da arte marcial, que ocorre de 14 a 18 de agosto, no Rio de Janeiro. 

Para o combate inédito, os atletas do Gravataí Taekwondo Clube treinam todos os dias, por pelo menos duas horas _ exceto aos sábados, quando fazem pedágio solidário para arrecadar recursos para a viagem. Eles ocorrem simultaneamente, das 8h30min às 16h, na Parada 66 (Avenida dos Estados), no Centro e no Parque dos Anjos. 

O grupo precisa de R$ 10 mil para pagar a viagem de sete atletas, a mãe de um deles, dois treinadores e um aluno que irá apenas para assistir. O valor inclui gastos com inscrição no campeonato, passagens áreas, hospedagem, alimentação e transporte do grupo dentro do Rio de Janeiro. 

Jefferson Botega / Agencia RBS
Sete competidores que vão para o Rio de Janeiro

Verba

Para tentar captar recursos, os atletas fazem todo tipo de esforço: vendem um certificado de apoiador do Taekwondo de Gravataí para empresas e pessoas físicas, pelo valor de R$ 100 cada, e abriram uma vaquinha online. No próximo domingo, dia 7, será realizada ainda a Copa das Comunidades, competição de  tae-kwon-do com 50 inscritos – todo o valor arrecadado será usado para pagar a viagem.

– Nós não temos apoio do poder público. Mesmo assim, queremos mostrar a estes atletas que eles podem ser bons em algo e que o esporte não só proporciona a competição, mas também a chance de eles viajarem, conhecerem novas culturas e andarem pela primeira vez de avião – explica o treinador Ruan Martins, 26 anos.

Além de golpes e chutes, o professor tenta transmitir aos alunos que, mais importante do que o resultado da competição que virá é o crescimento e o amadurecimento deles durante o processo. Além da esperança para a vida que o esporte traz. 

Jefferson Botega / Agencia RBS
Grupo se esforça em ações para arrecadar R$ 10 mil

Entre os sete competidores, duas são também professoras de tae-kwon-do em suas comunidades: Deise Klimeck, 25 anos, e Pâmela Flores, 15 anos. Ambas dão aulas para crianças em garagens: Deise no Rincão da Madalena, e Pâmela na comunidade do Xará.

– Se preparar para uma competição nacional é um grande desafio, mas ensinar o esporte desde o comecinho também, porque exige muita paciência. Mas, para mim, também é importante porque me ajuda a não esquecer os golpes, fico o tempo todo com o esporte na cabeça – considera Pâmela que, uma vez por semana, dá aulas para dez alunos, de sete a 12 anos. 

– Muito dessa experiência no Campeonato nacional vou poder trazer para as minhas aulas. Ensinar também me ensina a ser grata pelo que o tae-kwon-do me proporciona – afirma Deise, que dá aula para 55 alunos, divididos em três turmas. 

Esforço fora do tatame

Para fazer bonito no tatame, os competidores seguem uma rotina rigorosa que não se limita aos treinos. Cada atleta precisa controlar o próprio peso e manter uma dieta rígida – 200 gramas a mais do total permitido pode tirá-lo da competição. Em resumo: escapadas estão proibidas até o campeonato. O professor explica que incentiva a gurizada a ter consciência de atleta profissional, o que também envolve rendimento escolar e assiduidade nos treinos – só são permitidas faltas justificadas em caso de atestado médico. 

Há seis anos no esporte, João Vitor Severo Negrini, 10 anos, afirma que o  tae-kwon-do o ensinou a não desistir do que quer. Nem que, pra isso, tenha que abrir mão de doces e do xis que tanto adora:

– Têm muitas coisas que gostaria de comer, mas não dá. O esporte nos mostra que é preciso se concentrar naquilo que estamos fazendo, dar o nosso melhor. 

Toda essa consciência se formou ao longo dos anos passados sobre o tatame, diz a mãe do menino, a representante comercial Thaíse Costa Severino, 40 anos. Ela conta que o menino se policia com a alimentação, mesmo apaixonado por chocolate, e cuida dos próprios horários:

– Em certo momento, achei que ele desistiria da rotina de treinos, porque é puxado, tem que acordar cedo. Mas o esporte trouxe essa organização para a vida dele _ diz a mãe do caçula do grupo. 

Jefferson Botega / Agencia RBS
Até a competição, treinamentos são diários

Rigidez cotidiana

Para se preparar para competir com atletas de outros Estados, a turma abre mão não só de delícias à mesa como de uma vida social comum para adolescentes. Nicole Feix, 14 anos, há sete no esporte, afirma que sair aos finais de semana e encontros com amigos são vetados nesse momento por falta de agenda:

– Deixamos de ir em aniversários de família, por exemplo, porque isso não é justificativa para faltar aos treinos – diz a menina. 

A arte marcial impõe uma rotina de comprometimento e respeito entre os competidores. A conduta dos atletas fora do tatame também interessa aos professores. Ruan explica que, a cada trimestre, a escola e os pais dos atletas são chamados a falar a respeito do comportamento dos jovens. Não é só o bom rendimento escolar que é valorizado. 

– Quem estamos enfrentando no tatame é tão somente o nosso adversário. Valores como respeito, amizade e trabalho em conjunto é algo que trabalhamos o tempo todo. O esporte coloca o atleta como espelho de outras pessoas – afirma Ruan. 

Confira quem são os atletas

Laison Nelly Ferreira, 14 anos
Treina há três anos, vai competir na categoria cadete até 57kg

Pâmela Flores, 15 anos
Treina há três anos, vai competir na categoria junior até 52kg

Deise Klimeck, 25 anos
Treina há dez anos, vai competir na categoria adulto até 46kg

Roger dos Santos, 25 anos
Treina há 13 anos, vai competir na categoria adulto até 54kg

Nicole Feix, 14 anos
Treina há sete anos, vai competir categoria cadete até 44kg

João Vitor Severo Negrini, 10 anos
Treina há seis anos, vai competir na categoria infantil até 34kg

Wagner Renato Pereira Pontes, 13 anos
Treina há sete anos, vai competir na categoria cadete a partir de 65kg 

A competição
Campeonato Brasileiro de Taekwondo, no Rio Janeiro, de 14 a 18 de agosto

Como ajudar
– Nos pedágios solidários, todos os sábados, das 8h30min às 16h, na Parada 66 (Avenida dos Estados), no Centro e no Parque dos Anjos.
– Comprando o Certificado de Apoiador do Taekwondo de Gravataí, por R$ 100, vendido a empresas e pessoas físicas.
– Colaborando com a vaquinha online, pelo link: bit.ly/VakinhaTaekwondo.
– Contato com o grupo pelo Facebook: facebook.com/gtctkd.



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