Confesso que raramente vou ao teatro. Mas quando alguém que me conhece bem indica muito uma peça, dizendo que me enxergou no palco, preciso conferir. Na verdade, todo mundo se vê na atuação da Denise Fraga. Sua nova peça teve pré-estreia em Porto Alegre no fíndi passado. Eu de Você é um convite pra gente se espelhar mais um no outro, como ela própria diz no folheto de divulgação: "Tenho a impressão de que cada dia nos distanciamos mais da potência que poderíamos ser se estivéssemos realmente conectados".

Sabe como a Denise criou a peça? Pediu que as pessoas enviassem cartas contando suas histórias. Recebeu 300 e fez uma colcha de retalhos, costurando vivências de estranhos que parecem as nossas. Tem horas em que a gente fica na dúvida se a Denise tá falando dela, de mim ou de você. Lembra do quadro Retrato Falado, do Fantástico, onde ela interpretava histórias enviadas? É melhor. O jeito que um assunto é amarrado no outro emociona, faz rir e pensar. 

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Bilheteria

Dois fatos que aconteceram antes e depois da peça poderiam estar no palco. Quando fui comprar os ingressos, a bilheteria estava vazia. Nisso, chegou uma mulher impaciente porque, vai ver, seu tempo valia mais que o meu. Ela me infernizou. "Escolhe logo, tu tá demorando demais, não tem muito o que escolher". Eu só queria um minuto de paz pra decidir se a minha mãe, que foi junto ver a peça, conseguiria subir as escadas. Chamei a mulher de mal-educada, ela jura que não é.

Ainda bem que a outra história é bonita de contar. Uma grande amiga foi com a gente na peça e me ligou mais tarde. Ela deixou cair o celular no táxi. Detalhe: com cartão de crédito, dinheiro e documentos. Ligou pro seu número, o motorista atendeu e prontamente foi até a sua casa devolver tudo. Empatia e respeito. Depois fui terminar de ler o texto escrito pela Denise Fraga e… bingo! "É urgente recuperar nosso instinto solidário. É urgente recuperar o que nos mantêm humanos".