Tenho uma simpatia especial por quem se distrai a ponto de nem perceber o que está fazendo. Sabe aquele tipo de pessoa que coloca sal no cafezinho? Quem faria uma loucura dessas? O distraído. Tá conversando, tá feliz. Acha que pegou o envelope do açúcar, rasga a pontinha, vira o sal dentro da xícara, mexe o café com a colherinha e só descobre o que fez quando engole essa delícia. Provavelmente vai tomar mais de um gole (achando alguma coisa estranha) até se dar conta do que fez. 

O distraído tá sempre aprontando pra si mesmo. Também coloca adoçante em vez de açúcar. Passa condicionador achando que é xampu. Faz isso por que tá de olhos fechados pra não entrar espuma? Duvido. O distraído se distrai à toa. Sai de casa com uma meia de cada cor e só percebe quando alguém comenta. Deixa a chave na porta. Veste a camiseta de trás pra frente. Perde os seus pertences pelo caminho. Não lembra onde guardou a carteira, fica se perguntando onde deixou o guarda-chuva.  

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Levinha

Na verdade, eu invejo os distraídos. A cabeça deles voa por aí, levinha feito borboleta. O distraído em pessoa já se acostumou com a ideia. Nem liga, dá risada e segue a vida. Até faz piada disso. Bem diferente de nós, que nos estressamos com tudo. Se a gente faz uma trapalhada já se xinga, se cobra e não se perdoa. Repare como todo mundo perdoa sempre os distraídos. Será que tem algum botãozinho escondido dentro de nós que dá pra apertar e virar oficialmente uma pessoa distraída?

Se eu guardo a chaleira dentro da geladeira (só um exemplo, nunca fiz) é porque a minha cabeça tá cansada demais. Não é distração boa. É excesso de tarefas e preocupações. Queria aprender a ser mais distraída. A colocar sal no meu café, engasgar e rir sozinha. Aposto que os distraídos envelhecem menos. Eles devem escolher aquilo que vale mesmo a pena se preocupar. Ou aproveitam a fama de distraídos pra pegar mais leve em tudo. Eles estão certos, você não acha?