Às vezes a pele da gente rasga e precisa ser remendada que nem buraco de meia. Foi agitado o meu 20 de setembro, sabe. Mais do que eu gostaria. E a vida pergunta alguma coisa pra gente antes de nos pegar de surpresa? O dia estava feio na praia. Mesmo assim, eu quis ver o mar. Fiquei na areia pouquíssimo tempo porque ventava muito. Na volta pro carro, eu vim caminhando por aquela passarela de madeira. No instante em que pisei no chão de pedras da rua, escorreguei e caí.

Meu joelho esquerdo bateu com toda força nas pedras. A dor foi de revirar os olhinhos. Já dentro do carro, levantei a calça pra ver se tinha esfolado a pele. Caraca! Quase tive um treco quando vi aquele buraco enorme. A pele abriu de lado a lado, e algo estranho apareceu lá dentro. Nessas horas, bate o pavor e tem que pensar rápido. Botei no GPS o Hospital Santa Luzia, de Capão da Canoa, e nos mandamos pra emergência. Tentei fechar aquilo com as mãos. O coração queria sair pela boca.

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Inesperado

Deitada na maca esperando costurarem meu joelho, pensei no inesperado da vida. De uma hora pra outra, acontece. Seria diferente se eu estivesse em Porto Alegre? E se eu tivesse voltado antes pro carro, como fez o Ricardo? Também teria escorregado e caído? Se eu nem fosse ver o mar teria me machucado de outra forma? Em outro dia? Seria pior ou melhor? Lembrei da frase que tenho tatuada: o que é pra ser tem muita força. É uma verdade que se encaixa em várias situações.

Agora tenho seis pontos segurando as pontas, uma futura cicatriz e uma calça a menos no guarda-roupa. Culpei o tênis e me livrei dele, aquele solado gasto e o limo não combinaram. Tomara que o impacto da queda no osso não traga sequelas. Joelho é sempre complicado. Vou seguir pensando nessas surpresas que alguém escreve no nosso roteiro de vida. Quem tá acostumada a cuidar de todos estranha quando precisa de cuidados. Vai ver é isso! Apenas um recadinho pra eu cuidar um pouco de mim.