Teste GZH
Um mês depois, o que funciona e o que não funciona no app que mostra a localização dos ônibus de Porto Alegre
Apesar de alguns recursos irem bem, outros ainda precisam ser aprimorados
No dia 14 de agosto, a prefeitura de Porto Alegre, em parceria com a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), lançou um aplicativo que prometia reduzir um cenário conhecido pelos usuários de ônibus da cidade: os longos minutos de espera por um veículo, muitas vezes em lugares pouco movimentados. Quase um mês depois de o CittaMobi entrar em funcionamento na Capital, a reportagem foi às ruas para simular a rotina de um passageiro: testamos o aplicativo em diferentes pontos da cidade.
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A repórter chegou em uma parada de ônibus da Avenida Ipiranga, perto da sede do Grupo RBS, por volta das 7h30min. Quase cinco horas depois, após passar por um T1D, T4, TR61 (Cristóvão Colombo) e 188 (Assunção), a repórter retornou ao ponto de partida, pouco depois das 12h.
As impressões são de que, em um mês, o aplicativo foi aperfeiçoado e recebeu melhoras (confira o teste feito nos primeiros dias de funcionamento). Algumas linhas e alguns recursos, no entanto, ainda deixam o usuário na mão. Confira como foi o novo teste:
Ponto 1: traçar uma rota
O aplicativo que monitora os ônibus da Capital pode ser acessado de duas formas. Através do app TRI Porto Alegre, o usuário pode clicar em "função GPS" — neste caso, será redirecionado para o CittaMobi, que também deverá ser instalado no celular. Também é possível baixar apenas o CittaMobi, já que é unicamente por ele que é feito o monitoramento dos ônibus.
A função de traçar uma rota, que não estava disponível nos primeiros dias em que o aplicativo foi disponibilizado, já pode ser acessada. Em todas as vezes em que a repórter indicou um destino, foi traçada uma rota com precisão — o sistema mostra, inclusive, quando é necessário caminhar até determinada parada de ônibus e quais são as linhas mais rápidas até o ponto de chegada. Para que o melhor caminho seja indicado, no entanto, o usuário deve clicar em "personalizar rota" e definir até que distância está disposto a caminhar (até alguma parada, por exemplo).
Cada ônibus tem uma indicação de tempo estimado de viagem.
— O GPS funciona bem, e eu uso quase todas as funcionalidades. O problema é que ele não calcula muito bem o tempo dos ônibus, o tempo que vai levar de um ponto a outro. Não leva em consideração como está o trânsito, então, às vezes, acho que vai demorar um tempo, mas leva mais — relata o administrador Dionatan Bringmann, que usa o aplicativo desde que ele foi disponibilizado.
Quando a repórter indicou que usaria o T1D, o aplicativo chegou a mostrar um alerta: uma mensagem indicou que a linha faria um desvio no itinerário, mas informou que nenhum ponto de ônibus ficaria desassistido.
Ponto 2: esperar o ônibus
Um dos recursos mais esperados pelos usuários de ônibus parece funcionar bem na maior parte dos casos: a indicação de quanto tempo o coletivo vai levar para chegar à parada. Nos casos do T1D, T4 e 188 (Assunção), os ônibus chegaram no tempo indicado, com, no máximo, um ou dois minutos de diferença. Nas paradas da Avenida Ipiranga, em frente à PUCRS, a repórter observou que a maioria dos ônibus chegava com poucos minutos de divergência em relação ao indicado.
— Eu só uso para ver o horário de chegada e, depois, fecho o aplicativo. Baixei o app logo que lançou e, para mim, sempre funciona bem. A divergência é sempre de um ou dois minutos — comemora a vendedora Danielle de Castro Borges, 21 anos.
No caso do TR61 (Cristóvão Colombo), houve uma falha grave. Inicialmente, o tempo de chegada do ônibus na Avenida Assis Brasil, ao lado do Terminal Triângulo, marcava seis minutos, e, em seguida, um minuto. Quando o veículo parecia estar chegando, o aplicativo atualizou e indicou 13 minutos restantes. O ônibus chegou quatro minutos depois, quando o app indicava que ainda faltavam nove minutos.
Segundo a ATP, o funcionamento deste recurso depende do sinal de internet. Apesar de todos os ônibus da Capital possuírem GPS, o monitoramento em tempo real depende de um "caminho" que deve ser percorrido pelo sinal do veículo, que é enviado para uma central e, depois, para o celular do usuário. As cores do sinal no aplicativo mostram o nível de precisão: verde (bom), laranja (médio) e cinza (ruim).
Ponto 3: hora de descer
Na teoria, o aplicativo deveria sempre enviar um alerta quando o passageiro seleciona a parada de destino. Por meio do monitoramento em tempo real, o sistema informaria ao usuário que ele está se aproximando do ponto final, de maneira a dar tempo para ele se preparar para descer.
Na prática, esta foi a pior funcionalidade identificada no teste feito pela reportagem de GaúchaZH. Apenas em uma das quatro linhas utilizadas, o T1D, o alerta foi feito com uma antecedência mínima para que a repórter preparasse a descida, e o aplicativo encerrou a viagem automaticamente.
No caso do T4, do TR61 (Cristóvão Colombo) e do 188 (Assunção), não foram enviados alertas com antecedência. Mesmo o T4 terminando seu itinerário no Terminal Triângulo, o sinal de descida só foi enviado quando a repórter já havia desembarcado. Nos demais casos, a viagem nem sequer foi encerrada de maneira automática.
Para alguns usuários, no entanto, o problema não foi identificado. A jovem Mariana Longaray, 18 anos, mudou-se de Camaquã para Porto Alegre há um mês. Para ela, o CittaMobi facilita muito a rotina:
— Quando me mudei para cá, comecei a usar para pegar ônibus, já que não conhecia nada. Me ajuda bastante. Já marquei trajeto e usei vários recursos e funcionou bem. Quando é muito tarde e perigoso, eu fico dentro da faculdade e vejo o horário em que o ônibus vai passar na parada. Sempre funciona — diz a estudante de odontologia.
Ponto 4: informações do veículo
Quando o passageiro está aguardando o ônibus, fica sabendo se ele tem ar condicionado, se é adaptado para cadeirante e se há outros veículos da mesma linha chegando em seguida. Nos casos testados por GaúchaZH, em apenas um a marcação não correspondeu. O T4 tinha a sinalização de ar condicionado, mas, na prática, o aparelho estava estragado, e os vidros tiveram de ser abertos para ventilar o ambiente.
Em alguns casos sinalizados por passageiros, a linha que estava em deslocamento não era a mesma mostrada no aplicativo:
— Uso pouco, mas, nas vezes em que precisei, o celular marcava que estava vindo uma linha, mas não era a mesma que eu queria. Fiquei esperando e a minha não chegou — reclama o vigilante Roger Willian Santander, 28 anos.
"Ainda em fase de testes"
Para a ATP, o aplicativo ainda é considerado em fase de testes — apesar de já existir há mais tempo para outras cidades, precisou ser inteiramente adaptado para o mapa de Porto Alegre. Segundo o diretor executivo, Gustavo Simionovschi, o primeiro mês foi considerado acima das expectativas:
— Tecnicamente falando, o CittaMobi ainda está em fase de implantação. Nós temos uma lupa colocada sobre ele todos os dias para encontrar problemas. Mas já dá para ver que o índice de erros é mínimo, perto do que esperávamos para um projeto desta natureza. O número de problemas é muito baixo. Os erros são muito pontuais, específicos para cada parada ou linha.
Segundo o diretor, são feitas reuniões semanais para avaliação do que pode ser melhorado e do que está funcionando bem.
— O sistema vai aprendendo porque há uma equipe dedicada a trabalhar em cima disso, caso a caso. Consideramos que há ajustes pequenos a serem feitos — explica.
Em relação ao problema na hora do alerta para a descida, o diretor informou que o ponto de marcação de cada parada está sendo permanentemente avaliado. Já sobre o erro de GPS, a justificativa é que problemas de comunicação com a central ou problemas de telefonia podem atrapalhar o bom funcionamento.
Para se ter uma ideia da extensão do trabalho, o CittaMobi considera 6 mil paradas de ônibus, 420 linhas, 1,6 mil veículos e mais de 20 mil viagens por dia.
O aplicativo TRI Porto Alegre recebeu 60.679 downloads a mais depois da implantação do sistema que permite monitorar os ônibus. Antes do lançamento, haviam sido feitos 171.533 downloads nas lojas dos sistemas Apple e Android — o número passou para 232.212 após a liberação da funcionalidade. Já o CittaMobi teve, até hoje, 93.288 downloads.
Esclareça suas dúvidas
- Críticas, elogios ou sugestões ao aplicativo podem ser enviadas para os telefones 156, da prefeitura, e 118, da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC)
- Na ATP, o contato é pelo 3027-9900 ou o e-mail comunicacao@atppoa.com.br.
- Também é possível buscar mais informações pelo site www.tripoa.net.br/gps.