Papo Reto
Manoel Soares: "Alguns presos estão com as mentes livres, alguns livres estão com a mente presa"
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
A comunidade carcerária no Rio Grande do Sul é mais ou menos de 30 mil pessoas. Tem mais gente presa nas cadeias que muitas cidades. Aliás, o Presídio Central é uma cidade com mais de 4 mil habitantes. Pessoas que assumem a cadeia como seu lugar de existência. Muitos dos presos não sabem como viver na rua. Apesar de ir para rua ser um desejo recorrente, por incrível que pareça, a liberdade é supervalorizada lá dentro. Alguns saem e depois de três meses caem na tranca novamente, e ali reencontram amigos e conhecidos.
Apesar de estarmos falando de pessoas que cometeram crimes, eles são uma sociedade que se organizou para sobreviver aos caos. Códigos de condutas, leis, culturas e dialetos são algumas das características dessa cidade paralela que existe dentro das cidades.
Verdade cruel
Se você que está lendo nunca entrou em uma cadeia, pode até achar que tudo isso é conversa fiada, mas as cadeias influenciam nossa rotina e produzem líderes dentro da quebrada o tempo todo. Receber um áudio de um líder de facção é o sonho de muitos meninos que entraram agora nas bocas de tráfico. Se o asfalto não valorizar os talentos do morro, a cadeia valoriza. Verdade cruel, mas verdade. Alguns presos estão com as mentes livres, alguns livres estão com a mente presa. Desses, quem é você?