Papo Reto
Manoel Soares: problema de branco
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
A maior luta que temos nas quebradas é vencer os reflexos da escravidão. Hoje, um jovem negro na periferia vive menos do que um escravo do período colonial, de acordo com o números da violência do IBGE.
Os piores salários ainda são das pessoas negras. As faculdades têm mais pessoas brancas, enquanto os presídios têm mais negros. Se você consegue contar nos dedos os médicos negros que conhece, é porque algo está errado — deveriam ser tantos que faltariam dedos.
Essa luta não pode ser somente de negros. As pessoas brancas precisam assumir seu papel na luta contra o preconceito que está na estrutura da sociedade. Quando você entra em um restaurante e não tem negros sentados à mesa, o racismo está presente. Quando você vê pessoas negras sendo paradas pela polícia, enquanto pessoas brancas passam batido, o racismo está presente. Quando você vê pessoas negras na empresa em que trabalha somente fazendo limpeza ou segurança, o racismo está presente.
Mas não somos somente nós, negros, que devemos levantar a voz para essas realidade que refletem o racismo estrutural. Você, branco, deve perguntar por que não tem negros ali, deve exigir que as coisas mudem. E não adianta vir com esse papo que não existe cor: existem cores diferentes, e todas devem ser tratadas iguais.
O racismo não é um problema de negros, mas de brancos. Quem precisa mudar é a pessoa que acha normal negros serem tratados diferente ou sequer percebe quando o racismo está presente. Algumas pessoas são racistas, outras são socialmente cegas, mas o pior cego é aquele que não quer ver. Então, contamos com você para abrir o olho de quem ainda não viu o mal que o racismo faz a negros e brancos.