Lá em Casa
Cris Silva: "O poder do 'não'"
Colunista escreve sobre maternidade e família todas as sextas-feiras
Lá em casa, o “não” é a palavra do momento. É a expressão que meu filho, o Matheus, de um ano e nove meses, mais escuta. “Não vai na escada, Teteu!” “Não pode bater o brinquedo na televisão!” “Não come a comida do Fito (nosso cachorro)!” “Não pode bater na mamãe!”
E tá tudo bem, porque dizer “não” faz parte da educação das crianças. E essa fase que o Teteu está é uma das mais determinantes, já que a criança aprende muitas coisas com nosso “não”.
O “não” tem o poder de promover um crescimento incrível nas crianças e, acreditem, transformá-las em pessoas seguras. Conversei com a psicóloga clínica Hericka Zogbi e fiquei encantada com o que essa simples palavra de três letrinhas é capaz de promover. Dizer não cansa, educar cansa, mas os benefícios futuros são incalculáveis.
Por que dizer
Chega uma fase, por volta de um ano e meio, em que a criança começa a se dar conta de que tem vontade própria. Quando é contrariada, vem a birra, a gritaria, o choro. Se atiram no chão... Dão um show. É nesse momento que pais ou responsáveis treinam a paciência e o poder de ser firmes. E é preciso!
Hericka explica que a criança pequena é tomada pelas suas vontades, pois não tem a capacidade de compreensão de um adulto. Cabe aos adultos ajudá-la a medir as suas necessidades para que ela possa se desenvolver. Ao dizer um “não”, o adulto indica para a criança quais são os limites do ambiente.
Saber até onde pode ir gera a sensação de segurança e confiança no ambiente e nas pessoas. O “não”, o “limite” são tecnicamente chamados de “frustrações” que a criança deve ter para que possa conhecer os limites das suas necessidades e das outras pessoas, gerando a capacidade de colocar-se no lugar dos outros.
– Crescer significa frustrar-se e ir, aos poucos, internalizando que o mundo não é como queremos – conta a psicóloga.
Ouça, também
Deve-se dar voz à criança. A necessidade em contrariar o adulto dá poder para que ela reconheça que também tem vontades válidas. Porém, há questões inegociáveis, como tomar banho, alimentar-se de forma saudável, respeitar as outras pessoas, ir à escola. Nesses momentos, surgem os testes de paciência e a necessidade de firmeza dos adultos.
E, atenção, pais e cuidadores que dão mensagens diferentes – ora pode, ora não pode a mesma coisa: isso faz com que a criança se sinta responsável por ela mesma antes de estar pronta para isso. Pode resultar em tristeza, ansiedade e agressividade.
Perólas
Minha sobrinha atendeu o telefone, e a moça perguntou:
– Oi, posso falar com o responsável?
Ela respondeu:
– Moça, não mora nenhum responsável aqui.
Eduarda, sete anos