Papo Reto
Manoel Soares defende o nobre funk
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
Tenho visto uma molecada sonhando em um dia se tornar artista de funk. Apesar de muitos não gostarem do estilo musical, não imaginam que existe nobreza nesses sonhos.
Essa molecada cansou de ver a família mergulhada na miséria. Logo de cara, falam de carro e bebida numa pegada ostentação. Os que os criticam, em muitos casos, são hipócritas, porque também querem carro importado, bebidas e mulheres. Mas, quando quem deseja isso são jovens da quebrada, se torna feio e bagaceiro.
Hoje, eu conheci um menino que canta funk, e seu sonho é poder colocar dentes no pai. As críticas dirigidas a estes jovens vêm carregadas de muito preconceito. É óbvio que toda a fragilidade na educação e na formação humana fica evidente nas letras, mas a verdade é que a precariedade musical deles é consequência dos descasos vividos. Mas nem por isso deixam de produzir cultura e buscar seus sonhos.
Aos olhos de alguns, a periferia só é bem vista se estiver limpando chão e servindo a elite. Não sou a favor de músicas que exaltam o crime ou estimulam a pedofilia, mas isso não pertence a um grupo específico. Todo um grupo de pessoas não pode ser penalizado pelo erro de alguns. Então, antes de criticarmos esses jovens, vamos ver se não estamos sendo injustos com quem já é vítima de uma sequência de injustiças.