Papo Reto
Manoel Soares fala sobre Dia da Consciência Negra
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
Vários amigos e pessoas que admiro estão fazendo eventos relacionados à Consciência Negra. A pergunta mais frequente é a respeito do porquê fazemos isso, se somos todos iguais. Só o fato de alguém fazer essa pergunta já mostra a necessidade de haver um período de conscientização.
O que a galera não entende é que esse é um momento para as pessoas de pele clara, principalmente. Nós, negros, temos essa consciência desde que nascemos, falo isso sem nenhuma pegada de vitimismo. Assim como quem nasce no campo sabe o que é a lida campeira, quem nasce com a pele escura conhece as alegrias e as tristezas da melanina que carrega.
Neste mês, somos provocados a entrar em debates sobre nossa história e sobre nossas lutas com pessoas que sequer sabem em que Estado brasileiro Zumbi lutou. Dizer que nosso cabelo não é sujo, que não temos os órgãos genitais maiores que os outros, que não somos obrigados a saber a dançar. Nossa luta não é para sermos negros, mas para sermos pessoas comuns, para que nossos filhos não sejam motivo de piada na escola por serem mais escuros, para que nosso salário não seja mais baixo, para que a polícia não nos pare enquanto tentamos pegar um táxi.
Quando criamos a Semana da Consciência Negra, era para que os de pele clara entendessem a nossa história, pois ouvimos tanta bobagem sobre o assunto que chega a dar raiva. Mas sejamos pacientes, para que o mundo seja consciente.