Não aguento mais ver gente parecida comigo sendo a cara da tristeza. Tem horas que eu queria só ser um homem, e não um homem negro. Eu sei que temos que falar do absurdo que é o fato de, a cada 10 jovens mortos pela polícia, sete serem negros. De como é doloroso saber que, depois que você terminar de ler esse jornal, pelo menos três jovens negros terão sido assassinados no Brasil.

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Sei que é importante falar que uma mulher negra, com a mesma formação e no mesmo cargo, ganha metade de um homem branco. Entendo que nada explica as mulheres negras receberem menos anestesia na hora do parto. Sei que temos que falar dessas coisas, mas não aguento mais. É como se nossa realidade reforçasse ainda mais a imagem de dor e sofrimento que queremos que acabe. 

Não sei se o espelho da mídia nos imita ou se imitamos o espelho. Por via das dúvidas, acho que podemos fazer diferente às vezes, mostrar como pessoas negras são espetaculares, como é importante somente sermos pessoas, sem ter que pensar em nossa cor, sem ter que olhar para o segurança do mercado na ponta do outro corredor. 

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Queria falar de como é legal ter o melhor promotor do Estado se parecendo com o meu tio, de como é ter a apresentadora do RBS Notícias de sábado parecendo minha irmã. Ver tudo isso sem falar de dor, mas de alegrias. Não quero que nossa pele seja sinônimo de mimimi ou de lágrimas. Isso seria possível se eu saísse de casa e não ouvisse uma piada racista, visse um ato de discriminação ou uma atitude de preconceito racial. Mas, toda vez quem tento só ser uma pessoa como qualquer outra, vem um racista imbecil e me lembra que sou negro. Isso é muito chato.