Comoção
Policiais destacam o carinho por Justiceira, a égua que morreu antes do jogo entre Inter e Tolima
Animal de 18 anos de idade tombou durante o policiamento no entorno do Beira-Rio
Vazia, a baia 86 do 4° Regimento de Polícia Montada (4° RPMON), em Porto Alegre, não receberá mais a sua dona, a Justiceira, égua da Brigada Militar (BM) de 18 anos de idade que tombou pouco antes de entrar em combate, na noite de quarta-feira (26), antes da partida entre Inter e Tolima.
Dócil, o animal de pelo marrom e mancha branca entre os olhos passou mal e morreu logo depois da chegada ao estádio Beira-Rio.
Uma das cenas marcantes do episódio é a do soldado Maicon Alves agachado ao lado do equino deitado no chão. Com uma mão na cabeça do animal e outra em seus próprios olhos, Alves representou, naquele instante, toda a dor sentida pelo grupo de policiais do 4° RPMON.
— É um momento de tristeza — define.
A sucessão dos fatos foi muito rápida, recorda o soldado. Assim que desembarcaram no estádio, os animais foram levados para uma caminhada de ambientação ao local. Foi neste momento que Justiceira deu os primeiros indícios de que não estava bem: fraquejou e tombou uma vez. Tentou levantar e caiu novamente.
— Foi quando vi que ela estava passando mal. Desci do meu equino e fui ajudá-la. Tirei a sela para ela ficar um pouco melhor. Mas foi instantâneo. Em cerca de cinco, 10 minutos ela já tinha morrido — lembra o soldado Alves.
Após constatarem a morte, cerca de 10 policiais reuniram forças para erguer o animal até o caminhão da BM, que levou Justiceira de volta ao quartel, onde foram realizados exames. De acordo com o veterinário, capitão Stéfano Leite Dau, uma análise preliminar indica que a égua tinha uma lesão cardíaca, o que pode ter provocado um infarto.
— Ela podia ter essa alteração há mais tempo. Como no dia a dia os animais basicamente caminham e ficam parados, isso pode não ter se manifestado. Ou seja, como não tinha sobrecarga, passou despercebido. No entanto, chegou a um ponto que ficou demais — acredita o veterinário, que também coletou amostras que foram encaminhadas para o laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Fim de uma parceria
O caso de “amor à primeira vista” começou lá em 2015, quando o animal desceu de um caminhão vindo de Santa Maria. Naquele momento, o sargento Mario Luiz Negreiros colocou os olhos no equino e pensou: “Essa vai ser a minha montaria”. E assim aconteceu até a última sexta-feira (21), quando a relação de parceria teve um “até breve” em função da aposentadoria do policial.
— No dia (sexta) em que eu tirei a foto aqui, chamei ela: “Justiceira!” e ela relinchou — conta.
Ontem, ao receber uma ligação do colega que montava o equino, Negreiros foi tomado pela tristeza:
— É uma dor. Cinco anos convivendo com ela em grandes momentos, como a semifinal da Libertadores entre Grêmio e River Plate, e a final da Copa do Brasil, entre Inter e Athletico-PR. Fora Operações Golfinho e outros eventos. É como se fosse da família. Até minha esposa chorou. Era um grande animal.
Como reconhecimento, Justiceira deve ser homenageada no próximo dia 7, quando uma prova hípica vai comemorar o aniversário do 4° RPMON. Embora a ideia ainda não esteja definida, o tenente coronel José Carlos Pacheco acredita que a égua deva receber uma lembrança para ser colocada em uma espécie de galeria de heróis.