Educação na Capital
Comunidade do bairro Partenon luta para reabrir creche interditada desde 2010
Escola Unidos da Paineira tem capacidade para 130 alunos e foi fechada devido ao avanço de raízes de árvore
Não é por falta de espaço que crianças de parte do bairro Partenon, em Porto Alegre, terão de se deslocar mais para estudar. Dentro da comunidade da Zona Leste, um prédio com capacidade para 130 alunos está interditado desde 2010.
O motivo era o crescimento das raízes de uma paineira, árvore que dá nome à instituição de Educação Infantil municipal Unidos da Paineira. O vegetal foi removido em janeiro deste ano – depois de uma briga judicial entre a prefeitura e o dono do terreno onde estava a planta, que se arrastou por quase uma década. Agora, o espaço precisa de reformas para voltar a abrigar alunos.
O início do atendimento no prédio da Rua Antônio Farias foi em 1991. Porém, desde que a árvore começou a crescer, trouxe problemas para a escolinha. Com o risco de a estrutura ser afetada, a prefeitura acabou interrompendo as atividades no local em 2010.
Depois de deixar sua sede original, a Unidos da Paineira passou a funcionar em uma casa alugada pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) no mesmo bairro até 2018. Naquele ano, a prefeitura recebeu uma ordem de despejo por não pagar o aluguel da residência. Assim, a Smed decidiu interromper as atividades da Paineira, transferindo os alunos para outras escolas.
No total, conforme a secretaria informou ao Diário em 2018, eram 32 crianças atendidas, bem menos dos que as 130 que poderiam ser matriculadas no prédio original. Destas, 23 foram encaminhadas para as escolas que desejaram, conforme a secretaria. Apenas nove responsáveis por alunos não escolheram escolas e não mais contataram a Smed.
Protestos
Mas o fechamento da instituição causou comoção não só na comunidade, mas também em órgãos públicos. Unidos, pais e membros do Conselho Tutelar protestaram na Avenida Bento Gonçalves, na região do bairro Partenon, como o Diário Gaúcho mostrou em 26 de novembro de 2018. Logo, o tema chegou ao conhecimento do Ministério Público de Contas (MPC-RS), que, em fevereiro do ano passado, pediu uma auditoria na Smed sobre o fechamento da Unidos da Paineira.
O processo foi arquivado no mês passado, mas por outro motivo. Durante as apurações, a Justiça sugeriu uma auditoria que contemplasse todo o setor de Educação Infantil da Smed – este processo está em andamento. Com isso, o caso específico da Paineira foi arquivado, já que a auditoria de todo o sistema também contemplará a instituição, como explica o MPC.
Sem uso, mas conservado
Atualmente, o prédio da Unidos da Paineira está sob os cuidados da comunidade. Conforme a líder comunitária Silvia Regina Cardoso Pinto, 59 anos, a prefeitura limpou o local e fez vistorias.
– Dá para ver que, mesmo com todo esse tempo, a parte que a árvore afetou é bem pequena – recorda Silvia.
A ação das raízes é perceptível em apenas um ponto, perto dos banheiros. Tirando as folhas que se espalham pelo local e alguns poucos efeitos do vandalismo ao longo de uma década, o prédio parece bem conservado. No quadro negro de uma das salas, ainda está marcado em giz colorido a data do último dia de aula: 6 de maio de 2010.
O auxiliar administrativo Thalles Peccin, 27 anos, estudou no local quando criança.
– Era a melhor creche da região, pelo tamanho e serviços oferecidos. Dá uma pena ver todo este espaço sem uso. Agora que a árvore foi retirada, voltamos a ter esperança de o prédio voltar a receber alunos – torce Thalles.
A sensação é a mesma da auxiliar de serviços gerais Juliana Farias, 31 anos. Egressa da Paineira, ela sonha em ver o filho, Henry, dois anos, estudando no local.
– Meu pai também trabalhou aqui, então, tenho um laço forte com a escola. Assim como toda a comunidade, que sempre lutou muito por este espaço – diz.
Sem previsão de aulas
Conforme a Smed, a retomada das atividades no prédio original da Unidos da Paineira depende “da realização de obras estruturais para garantir a segurança da comunidade escolar após a remoção da árvore no terreno ao lado”. Segundo a pasta, uma equipe está levantando o custo total das reformas que deverão ser realizadas, porém, “ainda não há previsão de data para que o local volte a atender as crianças”.