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Coluna da Maga

Magali Moraes e o cheiro da acetona

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

09/03/2020 - 09h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

É forte, eu sei. A gente reconhece à distância. Já flagrei colegas tentando tirar o esmalte das unhas discretamente durante o horário de trabalho, e o cheiro da acetona as entregou. Dá pra farejar no ar: tem vaidade aí. A vontade de se cuidar não espera. Uma mulher com algodão molhado de acetona não quer guerra com ninguém. Esmalte detonado é mão camuflada. O punho fechado não quer dar soco, só esconder unhas feias. Nem precisa alguém reparar. A gente está vendo, e não gosta.

Talvez o cheiro da acetona seja forte de propósito. Pra chamar a atenção. Pra estabelecer um ritual de beleza. Poderia ser incenso ou vela perfumada. É acetona. É tipo assim "cheguei". O removedor também tem um cheiro típico. Prefiro o da acetona. Ele abre as narinas, predomina no ambiente e manda uma mensagem pro cérebro: "Como é bom achar um tempo só pra mim." Acetona é a pontinha do iceberg. Depois do esmalte velho, vem uma nova cor e o orgulho da mão feita.

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Tem outra: as unhas precisam respirar. Usar acetona é lembrar disso. Ontem foi o Dia da Mulher. Nem vou entrar no mérito das batalhas e conquistas. De tudo que ainda tá muito errado pra que as mulheres tenham mais respeito, espaço, igualdade e segurança. Estamos juntas nessa luta diária! Com ou sem esmalte. De preferência, sem roer as unhas porque isso é pura ansiedade. Aqui e agora, quero falar apenas do cheiro da acetona. Vaidade não é bobagem. É amor próprio. Bora se amar, gurias?

Se as unhas precisam respirar, imagina a gente. Será um sonho impossível acumular menos tarefas e nos priorizar um pouquinho? Respirar é bem mais que entrar oxigênio nos pulmões. É oxigenar a rotina. Achar um tempo pra tomar um café com as amigas, ler, dormir melhor, curtir um banho demorado, comer um doce sem culpa, ter mais qualidade de vida e mexer no que for preciso pra ser feliz. Nesse momento, as minhas unhas respiram sem esmalte, mas eu já vou pintar. E respirar também.



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