Lá em Casa
Cris Silva: "O lado bom de tudo isso"
Colunista escreve sobre maternidade e família todas as sextas-feiras
Essa semana eu conversava com meu marido sobre o momento que vivemos, esse isolamento e o quanto eu acredito que é possível ver o lado bom das coisas – por incrível que pareça. Às vezes fica difícil acreditar. Mas, se a gente respirar e pensar melhor, vai enxergar um lado positivo de uma situação ruim. Eu adoro um provérbio que diz: “Deus escreve certo, a gente é quem não sabe ler”. Tudo isso para dizer que, em meio à ansiedade de não saber como serão os próximos dias, ou quando vou ter a minha vida normal de volta, eu encontrei o lado bom. Um belíssimo lado.
Estamos conseguindo perceber o desenvolvimento do Teteu, meu filho de dois anos, e só é possível porque estamos direto com ele, observando cada detalhe que aparece de um dia para o outro. Se estivéssemos na nossa rotina de trabalho, fora de casa e retornando no fim do dia, esse privilégio seria das professoras da escolinha. Mas, como o mundo parou por conta da pandemia, eu consegui ter tempo para ele.
Filosofando um pouco, acredito que essa mudança toda que estamos vivendo vai nos trazer de herança, certamente, a dor por ter perdido pessoas queridas, mas também a chance de fazer diferente, de ser solidário, de pensar no outro, de crescer espiritualmente e de valorizar as coisas mais simples da vida, como a companhia das pessoas que amamos.
Música
Teteu é louco pelos Beatles. A música preferida é “Yellow Submarine”. Por dia, o clipe roda umas 30 vezes na televisão... Ele olha, dança do jeito dele e sorri. Essa semana ele cantou!!! Nunca antes ele tinha cantado! Tá certo que ele cantou só as últimas vogais de cada palavra – que, por sinal, era em inglês –, mas ele cantou. Que novidade!
Ele também está se saindo um ator digno de Oscar. Na semana passada, correndo no pátio, ele caiu e ralou o joelho. Saiu um pouco de sangue, mas logo criou casquinha e rapidinho o joelho estava bom. Essa semana, em meio a uma teimosia dele, eu falei mais alto e fiquei braba. Prontamente, ele se atirou no sofá, abraçado no joelho totalmente bom, e começou a chorar, dizendo: “Dodói, mamãe”. Tudo para mudar o foco e não levar um xingão. Um artista.
Esses são apenas alguns exemplos de como, em plena quarentena, podemos conhecer melhor e vivenciar as aventuras de quem divide o mesmo teto.
Respira e não pira
Conversei com a psicóloga Hericka Zogbi e, acreditem, existem ainda mais pontos positivos nesse isolamento. Segundo ela, as pessoas podem acompanhar cada passo dos seus filhos e também as atividades escolares. Quem está em isolamento, sem parentes ou amigos dividindo a mesma casa, pode se sentir mais fragilizado e, até, há chance de surgir um quadro depressivo ou de ansiedade.
– Quem sabe não é a oportunidade de buscar ajuda para algo que não se tenha buscado antes? – sugere Hericka.
Porém, é inevitável falar do lado negativo. Se, por um lado, é bom estar mais perto dos filhos e do parceiro(a), por outro, certas coisas que não apareciam no dia-a-dia mais corrido podem surgir e provocar conflito. Mas existe aí, também, uma oportunidade para resolver.
Minha quarentena
Hoje, na coluna, eu tenho o prazer de trazer o relato da Fiama Costa Cabral, educadora infantil, mãe de dois filhos e moradora de Arroio dos Ratos. Ela dá uma aula de como transformar o isolamento em belas lembranças.
“Por aqui, somos bem conscientes do que significa este momento que estamos vivendo. Estamos em casa desde o dia 19 de março. Saio apenas para ir ao mercado, a cada 10 dias. As crianças ficam em casa direto. Temos dois fatores positivos. Primeiro que sou professora, então, estou conseguindo acompanhar o João, quatro anos, e a Luiza, sete anos. Segundo é que temos um pátio grande – o que tem facilitado a convivência.
Nesta quarentena, resolvi doar todos os meus conceitos e metodologias pedagógicas aos meus filhos, e me pergunto porque eu não fiz isso desde o início da maternidade. Nestes dias em casa, temos explorado principalmente o que a natureza nos oferece. Brincamos juntos ao ar livre, é incrível como as ideias fluem. Já fizemos acampamento, piquenique e até coleção de pedras.
João, que sempre gostou de saborear toda e qualquer fruta, agora descobre o interesse por plantar as sementes do que ele consome. Luiza percebeu que, se mantiverem as coisas organizadas, eu conseguirei brincar mais tempo com eles.
Tem dias em que eles estão mais agitados. Nesse caso, também aprendemos a controlar a respiração através de uma meditação ‘do Paraguai’. Eletrônicos são usados só à tarde, mas, se der vontade, nós assistimos um filme.
Após essa quarentena, tenho certeza de que sentimentos nunca mais serão deixados para depois.”
Peróla
– Mamãe, a pessoa pode casar com pessoas da família quando é adulto?
– Não, minha filha, tem que casar com alguém de outra família.
– E porque você casou com o papai, então?
Carol, cinco anos