Coluna da Maga
Magali Moraes e a porta da geladeira
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
É como se tivesse um oráculo na cozinha, pronto pra dar respostas divinas. Você já reparou que tem gente que ama abrir a geladeira e ficar pensando na vida? Podia pegar algo pra comer, deu, fechou. Mas alguma coisa acontece quando a porta da geladeira tá aberta. Talvez seja a luz acesa lá dentro. Ou aquela mistura de cheiros. Em vez de decidir se a fome é de iogurte ou ovo, se quer maçã ou laranja, parece que surgem questionamentos profundos do tipo "qual é o sentido da vida?".
E a pessoa segue paradona, refletindo sabe-se lá em quê. Será que abriu a porta do freezer e congelou? Ser ou não ser quem paga a conta da luz, eis a questão. Não consigo ver essa cena sem interromper o momento de filosofia: "Fecha logo a porta, poxa!!". Geladeira guarda alimentos perecíveis, e manter ela aberta não ajuda muito. Tá com vontade de comer sanduíche? Pega os ingredientes e vai preparar. Não será ali, com a geladeira escancarada, que o presunto e o queijo vão entrar sozinhos no pão.
Vista
Geladeira não é janela pra ter vista bonita. Não tem pôr do sol na gaveta das verduras. O vidro de geleia é tão lindo assim? Vai ficar encarando o leite que você já viu mil vezes? É pra escolher pá-pum, antes que algo estrague. Depois que a porta abriu, o cérebro tem que decidir rápido (e não o estômago, que é bem indeciso). Não é hora de pensar se vai chover amanhã. Geladeira não é novela pra ficar parado assistindo. O pote com feijão não vai se declarar pras sobras de arroz.
A porta da rua ninguém deixa aberta tanto tempo. Faz isso pra ver o que acontece. Vai cozinhar e tá sem inspiração? Fecha a geladeira e abre o YouTube. É lista de compras? Te entendo, olha bem pra não comprar o desnecessário. Ah se fosse só esse o motivo de uma geladeira aberta. É ansiedade ou fome real? Esqueceu o que ia pegar? Imagina se a jarra de suco e a bandeja de carne pudessem falar. "O que você tanto nos olha?", elas perguntariam. Fecha a porta, pelamor!