Papo Reto
Manoel Soares e a chegada do coronavírus às periferias
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Neste domingo tem mais uma reportagem da série que estou fazendo no Fantástico sobre o coronavírus. Gravamos em uma periferia onde, até agora, já são 103 mortes. Estou desde janeiro falando para galera que essa doença chegaria nos becos e vielas, recebi muitas mensagens ridicularizando o alerta e tratando como bobagem.
Pois é, a bobagem que está levando as vidas da quebrada em menos de 11 dias. Concordo que pregar isolamento social sem conhecer a rotina das favelas é fazer chimarrão com água fria. Mas milhares de pessoas em quebradas como Restinga, Rubem Berta, Guajuviras e Cruzeiro estão subestimando o poder de destruição dessa pandemias.
Deus ajude que as pessoas não precisem ver o o caixão de alguém que ama descer lacrado em uma cova coletiva. Ainda dá tempo de tomar consciência e cuidar da família. Mas estamos na prorrogação de um jogo no qual estamos sem chuteiras. Por mais que você que está lendo seja resistente a usar a máscara e segurar a onda em casa, é importante que entenda o risco. A quebrada tem que comer, as latinhas não se enchem sozinhas, mas os caixões, sim, então temos que ficar atentos. Quem está sentado nas cadeiras de poder precisa entender que, além do medo da covid-19, as pessoas têm medo da fome.