Novas regras
Impedidos de receber clientes, restaurantes voltam a se adaptar para pague e leve e projetam queda no movimento
Com Porto Alegre na bandeira vermelha, estabelecimentos voltam a ser impedidos de servir refeições para consumo no local
Com o risco em saúde considerado alto devido à pandemia de coronavírus, passou a vigorar nesta quinta-feira (25) a proibição de receber clientes nos restaurantes de Porto Alegre. Já impactado financeiramente pelas restrições anteriores de atendimento, o setor vê um prejuízo ainda maior com o novo período de interrupção nas atividades.
GaúchaZH circulou por restaurantes da Capital nesta quinta para conferir como foi o primeiro almoço com a clientela impedida de entrar. Em geral, o que se percebeu foi o respeito de todos os estabelecimentos visitados ao protocolo estabelecido pelas autoridades.
Poucos clientes foram buscar comida. Além da restrição, contribuiu a chuva que caia na cidade. Quem pôde, pediu por aplicativos. O vaivém de motoboys era grande nos estabelecimentos.
No dia 20 de maio, a prefeitura da Capital havia autorizado que restaurantes pudessem voltar a receber clientes. À época, GaúchaZH ouviu proprietários de estabelecimentos que estavam reabrindo as portas após quase 60 dias fechados. Eles se mostravam esperançosos, mas temiam pelo futuro.
Um mês e cinco dias depois, a reportagem voltou aos estabelecimentos para ouvir como foi o período em que estiveram abertos e a projeção para essa nova etapa.
No restaurante Piatto, na Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, a situação é crítica. O proprietário Alcir Cracco afirma que o movimento está muito baixo. Já pensa até em fechar de vez o estabelecimento que funciona há 13 anos.
— É um desânimo. Temos muitos funcionários que ajudam a gente a desempenhar o melhor serviço. Mas não tem volta, estamos presos, atados, sem conseguir ir pra frente. Vamos tentar nos readequar e ver se vai dar pra continuar. Senão, vamos entregar o ponto — lamentou.
Pouco depois das 13h, o Piatto tinha vendido só seis almoços. Antes da pandemia, nos dias bons, o número passava de 400. Os funcionários estão todos com o contrato de trabalho suspenso. Só estão trabalhando a gerente, uma funcionária na cozinha e Alcir.
— Não valeu a pena nem abrir quando podia receber clientes. Não está dando nem para a luz — queixou-se.
No restaurante Kilograma, na Lima e Silva, Cidade Baixa, o movimento chegou a ser melhor nas últimas semanas. Com a possibilidade de receber clientes, Renato Bortoncello relatou que chegou a vender cem almoços por dia. Mas, com a nova restrição, de novo surgiu a incerteza.
— Dia após dia ia aumentando. Nos últimos, vínhamos aumentando cinco almoços por dia. Com a nova medida, foi lá para baixo novamente — lastimou.
De acordo com Bortoncello, a estimativa é que o movimento caia 25% em comparação ao que era antes da pandemia:
— Eu me preocupo é com meus funcionários, que estão com o contrato suspenso. Não quero demitir ninguém, sei que aí fora não está fácil para arrumar um emprego.
Ainda na Cidade Baixa, o restaurante Temperandus tenta oferecer um diferencial. Foi montado um bufê nas proximidades da porta. O cliente pode se aproximar e escolher o que quer no prato.
— A maioria dos clientes recebe o cardápio pelo WhatsApp e um dos nossos funcionários monta o prato para eles — comentou a proprietária Silvana Delazeri.
Ainda segundo ela, o estabelecimento vendia 200 almoços antes da pandemia. Depois da possibilidade de voltar a receber clientes, a partir de maio, ficou na média de 40. Nesta quinta, até 13h, foram vendidos só 20. A equipe de oito funcionários foi reduzida pela metade — quatro foram demitidos.
— Estamos pagando os funcionários e o resto virou bola de neve. Não sabemos o que vamos fazer — prosseguiu.
Um dos poucos clientes que saiu para buscar comida foi o aposentado Antônio Alberto Ramos, 70 anos, que se diz entristecido com a situação dos restaurantes:
— As duas palavras-chaves são educação e disciplina no momento atual. Quem não tem, prejudica os outros nessa situação em que vivemos.
Sindicato estima 5 mil demissões
Um levantamento feito pelo Sindicato da Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre (Sindha) mostra que aproximadamente 5 mil pessoas do setor foram demitidas em razão da crise financeira desencadeada pela pandemia.
Além de restaurantes, o decreto, publicado na madrugada de terça-feira (23), estabelece que bares, lancherias, padarias e lojas de conveniência somente podem funcionar com telentrega ou pegue e leve. Nos shoppings e no Mercado Público, restaurantes e demais estabelecimentos devem obedecer a mesma medida.