Coluna da Maga
Magali Moraes e os presentes de casamento
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Acredita que tenho até hoje as baixelas e faqueiros que ganhei de casamento? Digo mais: tenho o jogo completo de louças com pratos, pratinhos, travessas, xícaras de chá e cafezinho, bule, sopeira, manteigueira e sei lá mais o quê. Aparelho de jantar é que chama. Naquele tempo, era um presentão. Coisa de padrinhos generosos. Considerando que casei há mais de três décadas, a qualidade é ótima. Ou durou tanto por que está muito bem guardado. E a coragem de botar essas relíquias no uso diário?
Naquela época, os faqueiros vinham em estojos de madeira que mais pareciam maletas de viagem. Ainda é assim? Quantas árvores já foram mortas pra impressionar os noivos. Por dentro, a caixa era revestida de veludo vermelho. Chique! O único problema era ter espaço onde colocar esse trambolho. Só mesmo embaixo da cama dos pombinhos. Hoje em dia é tudo tão prático. E descartável, colorido, renovável. Sem falar que os apês vão encolhendo mais e mais. Cada cantinho livre ajuda.
Sonha
Quem casa quer casa própria ou já nem sonha mais com isso? Quem casa ainda? Maio continua sendo o mês das noivas? Quantas adiaram o sonho por causa da pandemia? Cancela o bufê, pendura o vestido, segura a decoração e o coração. Desconfio que o festão clássico acontece mais nas novelas do que na vida real. Os presentes de casamento duram mais que os votos? Não me pergunte por que escolhi esse assunto pra coluna. Não vou casar, não fui convidada pra nenhum casamento.
Foi por causa das baixelas de inox! Usei uma esses dias. Raramente lembro de abrir o armário onde elas estão, e me sinto entrando num túnel do tempo. Podia até tocar a marcha nupcial. Por Deus, uma baixela de inox nunca estraga. Elas seguem um espelho, mas agora refletem as minhas rugas. Qualquer hora me livro de todas. Ah, eu não faria isso. Será que o segredo de um casamento feliz e duradouro é manter o jogo de baixelas como um talismã? Uma dorme de conchinha com a outra. Deixa assim.