Lá em Casa
Cris Silva: "Comece por dentro"
Colunista escreve sobre maternidade e família todas as sextas-feiras
A coluna de hoje é um desabafo. Quem não se sentiu impotente, triste, ansiosa e com medo dessa nova realidade? Como serão os próximos meses? Quando teremos de novo o churrasco de domingo com toda família? Iremos à praia no verão? Quando vou poder levar meu filho pra escola? Quando irei ao cinema? Quando vou tirar a máscara? Quando vou rever meus colegas de trabalho? Teve um dia, nessa semana, que eu acordei assim, angustiada. Parei. Respirei fundo, chorei e resolvi aceitar e seguir em frente.
Tem dias que a gente parece que sente mais do que outros, não sei se é o tempo mais fechado, o silêncio da noite ou a falta da normalidade. Mas escolhi aceitar a situação e me reinventar, começando por dentro. Isso significa cuidar mais de mim.
Voltei a fazer exercícios, a escrever projetos, a ouvir mais música e comecei a assistir uma série. Foi maravilhoso, parece que ganhei fôlego! Porque a gente precisa estar bem para cuidar dos outros também. É como o aviso antes de decolar: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras cairão automaticamente à sua frente. Coloque primeiro a sua e, só então, auxilie quem estiver a seu lado”.
Não fuja da realidade
“A palavra de ordem é flexibilidade! Estamos vivendo uma situação atípica, um momento traumático. Temos que baixar o grau de exigência com a gente mesmo e com os outros, fazer ‘contratos de emergência’ com as nossas expectativas frustradas. É difícil conter a ansiedade se estamos todos aflitos, com medo. Esses sentimentos são inevitáveis, e a única forma de lidar com isso tudo é aceitando, se permitindo sentir a tristeza, a apatia, o medo ou a raiva. A minha sugestão é: primeiro pira, sente... E, depois, respira, expira e não pira!
Tentar fugir dos sentimentos é a roubada da situação, pois o sofrimento transborda para outro canto. Além disso, as pessoas têm que conseguir montar uma rede de apoio, pedir ajuda para familiares e amigos quando sentirem que estão prestes a transbordar. O confinamento físico não precisa vir acompanhado dos confinamentos psíquico e emocional. Nesse sentido, é importante reservar pequenos momentos na rotina para reabastecer as energias e se conectar consigo mesmo: ler um livro, ouvir uma música, ligar pra alguém que faz falta. Se não podemos sair de casa, podemos viajar dentro da gente mesmo e das nossas relações. Esse privilégio de movimentar-se internamente não tem vírus que nos tire!”
Marina Gastaud é psicóloga, especialista em psicoterapia psicanalítica e pós-doutora em Psicologia Clínica
Ajuda online
/// Uma sugestão para quem estiver precisando de ajuda é buscar terapia. Muitos profissionais estão atendendo online, e algumas instituições estão com valores reduzidos.
/// O Contemporâneo – Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade tem vários profissionais fazendo atendimento clínico social.
/// Informações pelo WhatsApp (51) 98275-0189.
Peróla
– Mamãe, sabia que eu escuto Deus?
– É, filha? E o que ele fala pra você?
– Que não é para eu ter medo. Que ele me deu muita coragem.
Cecília, cinco anos