45 dias internado
"É revoltante ver o comportamento da sociedade", diz primeiro paciente com covid-19 do Hospital Conceição
Ao Gaúcha+, Lucas Santos afirmou que está quase totalmente recuperado, dois meses após passar tratamento
O primeiro paciente com covid-19 do Hospital Conceição, Lucas Santos, 31 anos, afirmou na tarde desta segunda-feira (20) ao programa Gaúcha+ que, dois meses após tratamento, está quase totalmente recuperado. O gestor financeiro, que ficou conhecido como "paciente número zero" ficou 45 dias hospitalizado - do total, 32 dias, ele passou intubado.
— Tô quase 100% da recuperação. Tive acompanhamento psiquiátrico, psicológico, fonoaudiológico, fisioterapia e osteopático. Foram 32 dias intubado, então minha fala e deglutição saíram prejudicados. Mas me recuperei muito rápido. A equipe de profissionais que me atendeu é super boa — disse.
Internado ainda em março, Santos teve alta hospitalar quando Porto Alegre já vivia o distanciamento controlado. Quando questionado sobre sua opinião em relação a atitude da sociedade perante o coronavírus, afirmou que a situação é revoltante.
— (A população tem lidado) da pior forma possível. É revoltante ver o comportamento da sociedade nesse momento. Chega a me faltar palavras. Eu sofri isso na pele (...) — disse. — Tem duas formas de tu aprender uma coisa: ou tu sofre, ou tu tem um exemplo. E as pessoas não aprendem mais por exemplo, são poucas. As pessoas precisam se dar mal para aprender, é a impressão que fica — afirmou.
— Nesse momento tô sentado aqui virado para a janela e tô vendo gente andando na rua sem máscara... E é um desrespeito, é bem revoltante. As pessoas não acreditam em ciência, não acreditam em medicina, e eu senti na pele isso — reiterou.
Em quatro dias, quadro de saúde piorou
Santos afirmou que tinha uma saúde boa quando foi infectado. Por ter asma crônica, se encaixava no grupo de risco da covid-19. Porém, o gestor afirmou que não faz nebulização nem usa a bombinha há mais de 15 anos, mesmo fazendo exercícios físicos intensos. Essa é uma das razões pela qual o acompanhamento psicológico e psiquiátrico foi fundamental para sua recuperação após receber alta, afirmou o gestor — além do trauma de passar por uma experiência de quase morte.
— Quando tu te vê numa experiência de quase morte no hospital, tu sai de lá com um trauma, um sentimento de vulnerabilidade. E quando eu entrei, como fui o paciente zero, a questão de isolamento social recém tava começando. Quando saí do hospital (...) eu ainda tive que me adaptar à sociedade 45 dias depois de iniciar o isolamento. Eu entrei no meio da corrida — disse.
— O apoio psicológico foi fundamental para voltar às atividades normais, voltar a trabalhar de casa, lidar bem com o isolamento e lidar com a experiência de quase ter morrido — acrescentou.
Ouça, abaixo, a entrevista na íntegra:
Santos afirmou que começou a sentir os sintomas em meados de março: teve febre, dor no corpo e falta de ar, além da perda de paladar. De acordo com ele, a doença evoluiu de um quadro leve para um incômodo mais preocupante em quatro dias.
— Evoluiu bem rápido, foi questão de quatro dias. Eu tava como se tivesse um resfriado, e no quarto dia não conseguia nem andar direito, de tão debilitado que estava — afirmou.
De acordo com o gestor financeiro, na época, ele estava trabalhando presencialmente, mas já havia na empresa protocolos de higiene. Além disso, relatou que já estava tomando precauções de distanciamento social, evitando locais com aglomerações.
— Eu não entrei em contato com ninguém que viajou e nem viajei nesse período, então eu não tenho a menor ideia (de como foi infectado) —disse.
Na UTI do Hospital Conceição, Santos ficou em coma induzido durante 32 dias, e chegou a ter 80% de seu pulmão comprometido.
— Nesse estágio de coma, tu não estás necessariamente dormindo. De alguma forma, tu tá absorvendo o que tá acontecendo em volta. Então eu tive muitas alucinações, que de certa forma interagiam com o que acontecia ao meu redor. (...) Quando eu acordei tive a sensação que o tempo passou — afirmou.
No trigésimo segundo dia, contou, ele acordou do coma. Ficou mais cinco dias na UTI e, depois, oito em um quarto isolado.
— Perdi 15 quilos, tive uma parada cardíaca quando estava em coma, uma trombose, não conseguia andar, quando saí da UTI por causa da perda de peso, enfim — afirmou.