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Coluna da Maga

Magali Moraes: a aglomeração e o elevador

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

17/07/2020 - 09h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Reparou como ninguém usava a palavra aglomeração antes? Ela sempre morou em alguma página lá no começo do dicionário. Ignorada. Esquecida. Irrelevante. Mas nos últimos quatro meses virou celebridade. Tá na boca do povo. É falada nas matérias de jornais e programas de TV. É apontada nas ruas e recriminada. Ganhou um significado ruim, a coitada. O engraçado é que a palavra é a mesma, o que mudou foi o mundo. Hoje em dia pega super mal aglomerar. É tudo que o maldito vírus quer.

Já o elevador sempre fez parte da nossa vida. Preguiçosos adoram. Até quem mora em casa não escapa de elevador em prédios comerciais. Quantas cenas de filmes que acontecem num elevador já assistimos? Parece que ele demora mais quando temos pressa. Eu escrevi algumas vezes sobre as conversas de elevador. Ele era algo banal no dia a dia. A gente podia ficar em silêncio, se maquiar no espelho, fazer selfie. Ah se as paredes de um elevador falassem sobre os beijos.

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O problema é juntar essas duas palavras. Elevador não combina mais com aglomeração. Aliás, aglomeração não combina com mais nada. Nem com festa, estádio de futebol lotado, cinema cheio, pula-pula com muitas crianças suadas. E como a gente pegava elevador lotado! Era melhor do que esperar o próximo. Sempre cabia mais um quando se usava Rexona. Os vizinhos já não conseguem mais relaxar e jogar conversa fora no elevador. Duas pessoas é aglomeração? Escadas serão finalmente preferidas? 

Essa semana tive que sair da toca pra fazer exames médicos em um hospital. Parei no estacionamento e sabe o que eu fiz? Desci e subi caminhando pelas rampas só pra não aglomerar no elevador (tá errado, viu). Já no dia seguinte, me distraí esperando um elevador desabitado e acabei entrando com quatro pessoas dentro. O pavor que deu!! Me arrependi, queria sair. Aglomerar é desconforto e incerteza. Saudade de quando o meu único medo era ficar presa (e com fome) no elevador.



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