Coluna da Maga
Magali Moraes e a hora da despedida
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Você já viveu um relacionamento longo com uma calça? E sofreu na hora em que essa relação chegou ao fim? Como é triste! Dizer adeus pra minha adorada calça doeu. Ela era uma segunda pele. Um dia foi verde oliva, ultimamente nem eu definia a sua cor. Minha companheira inseparável da quarentena (tudo menos jeans). Dois buracos nos fundilhos terminaram com a nossa história. Remendei três vezes, mas descosturava de novo e os rombos já estavam do tamanho do Itaimbezinho.
A linha mais resistente de todas cansou de segurar as pontas. Nenhuma agulha conseguia mais juntar os dois extremos do tecido. E eu poderia pegar um gripão com o vento encanado que entrava por ali. Essa calça vai deixar saudade. Seguirei meus dias em busca de uma igual, assim que o comércio abrir normalmente. Uma calça que nunca se entregou a manchas de comida. E sempre deu a volta por cima na máquina de lavar. Fácil de secar, nem precisava passar. Eu assobiava, ela vinha.
Tesoura
Uma baixinha se apega quando acha uma calça que não precisa fazer bainha. E quem faz hoje em dia? Passa uma tesoura e pronto. Peraí! Eu poderia ter cortado ela pra fazer bermuda?! Não com aqueles fundilhos tão puídos. Sinto falta do fio puxado na coxa esquerda, que me distraía nas longas reuniões de trabalho. O celular encaixava direitinho no bolso da frente. Uma calça que nunca se importou quando eu abria o seu botão após o churras de domingo. Era praticamente uma amiga.
Só tenho a agradecer pelo companheirismo. Vai tranquila, calça amada! Sua missão foi cumprida. E olha a ironia da vida! Você se foi justo agora que eu iria (e vou) emagrecer. Queria tanto sentir o seu tecido descolando dos meus glúteos. Você seria a escolha certa pra usar na próxima visita ao cardiologista. Eu iria comprovar meu empenho mostrando o cós solto na cintura e dizendo "viu só como emagreci, doutor?" Nenhum jeans jamais chegará aos seus pés! Obrigada por ser meu uniforme.