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Papo Reto

Manoel Soares: A heroína da foto

Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho

25/07/2020 - 05h00min


Lauro Alves / Agencia RBS

Uma amiga que eu não via há meses me mandou uma mensagem do nada. Perguntou se eu estava em Porto Alegre. Falei que não, mas, se pudesse ajudar em algo, era só falar. Ela mandou uma foto seminua. Eu estranhei. 

Disse a ela que não entendi aquilo. Depois, chegou um áudio em que ela chorava. Pedia desculpa pela foto, mas estava desesperada. Sempre trabalhou como corretora de imóveis e, antes, fazia faxina. Mas há três meses não entrava um real na sua conta. Com duas filhas pequenas, sem receber ajuda do pai das meninas, ela não viu outra opção: começou a fazer programa. 

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Nada contra as profissionais que sustentam sua família com uma das profissões mais antigas da humanidade. Mas, no caso dela, senti que não existia alegria nenhuma em fazer aquilo. Lembro dela comemorando quando tirou o registro de corretora, cheia de planos e sonhos. Se chegou ao ponto de propor para um amigo a venda de serviços sexuais é porque o bicho estava pegando. 

Situação

Quando liguei, ela me disse que as filhas estavam comendo arroz e ovo havia quatro dias, e as imobiliárias para as quais ela prestava serviço não deram previsão de retorno. Não me senti à vontade de fazer qualquer comentário sobre a tentativa de ingressar na prostituição. No lugar dela, nem sei o que faria. Conversei com minha esposa, que recomendou que déssemos uma grana para a minha amiga. 

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Perguntei à minha preta se ela não sentia ciúme da foto que recebi, e a resposta foi direta: “Ela é uma heroína. Não pense que ela queria transar com você, queria arranjar dinheiro para salvar a família e merece nosso respeito”. 


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