Papo Reto
Manoel Soares: polícia doente
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
A forma como o policial é tratado é injusta. Essa frase está sendo dita por um cara que já teve ossos quebrados por brutalidade policial. Na época em que o Carnaval era na Orla do Guaíba, cansei de trazer para casa vergões da bainha das espadas da cavalaria que, com golpes certeiros, nos convidavam a voltar para casa.
Nosso crime era estar sentado na calçada no fim da noite de desfile tomando leite de onça e fazendo nossa análise das escolas. Mas nosso assunto não são as pauladas que os policiais nos dão, mas que eles escondem.
Os brigadianos são os policiais que mais cometem suicídios no Brasil. A brutalidade que eles aplicam em nós, depois, se transforma em Transtorno de Estresse Pós-traumático, que os médicos chamam de TEPT. Alguns estão viciados em drogas ilícitas, alcoolistas ou dependentes de antidepressivos. Os casamentos de muitos não duram, os filhos não conseguem ter uma relação saudável e, em geral, os que estão na rua diariamente desacreditam da bondade humana.
Impactos
A situação é tão séria que a Secretaria Nacional de Segurança Pública lançou uma cartilha de prevenção de transtornos e seus impactos na vida dos policiais. Alguns, no mesmo dia, veem crianças mortas, corpos decapitados e são obrigados a atirar em jovens que parecem seus filhos.
Tudo isso produz resíduos emocionais que destroem parte do psicológico desses homens e mulheres. Quando salvam vidas é mérito da Corporação, mas quando erram, são abandonados e tratados como casos isolados. Isso é injusto, pois errando ou acertando, meu filho é meu filho, mas, na Brigada, nem sempre. A farda está doente. Ignorar isso não resolve o problema.