Dividimos o mesmo teto por 14 anos. Quem disse que uma parede não pode ser considerada da família? Escolhemos esse tom de verde antes da mudança. Não lembro quais eram as outras opções. Desconfio que foi uma vontade de trazer um pouco da natureza pra dentro de casa. Que loucura pensar que meus filhos tinham 10 e 6 anos naquela época. Tudo o que vivemos de lá pra cá, a parede verde foi testemunha. E amadureceu junto com a gente. Pra sempre vai estar em nossas fotos.

Leia outras colunas da Maga

Deixa eu explicar. Ela não era uma única parede, mas sua cor dava a impressão que sim. O verde delimitava o recanto da sala de jantar, fazia uma pausa na porta da cozinha e depois seguia em direção aos quartos. Se eu acordasse à noite pra buscar água na geladeira, iria no escuro tateando a longa parede verde. Trocamos móveis, fizemos reformas, inventamos moda, escolhemos cores pra outras paredes, mas a verde continuava igualzinha. Agradava a todos, não havia motivo pra mudar. 

Respingos

Essa parede fez parte de tantas refeições. É como se ela sentasse na mesa com a gente. E nunca se importou com os respingos de refri ou suco. Ela também espiava por cima do meu ombro enquanto eu escrevia muitas colunas pro DG. Era a tela em branco do computador, e seu verde esperança me encorajando. A parede ganhou quadros e segurou firme quando meus meninos corriam feito loucos pela casa. Brincou de ser o ferrolho. Levou diversas boladas. Fez amizade com cortinas e tapetes.

Ganhou marcas do tempo, como todos nós. E nesse estranho 2020, a querida parede verde virou passado. Em uma mesma pandemia, aconteceram as pinceladas erradas e as certas. Estar muito em casa mexe com a gente. Decidimos mudar. O verde se foi (mas segue vivo nas plantas). Ainda estamos nos acostumando à nova cor. Ficou chique. Ficou mais claro do que imaginamos. Fica a saudade. Adeus, parede verde. Obrigada por tudo! A gente vai seguir criando novas histórias nesse lar, doce lar.

Leia outras notícias do Diário Gaúcho