Sem aulas presenciais há cinco meses, professores da rede municipal de ensino de Viamão, na Região Metropolitana, estão usando de muita criatividade para atrair a atenção dos pequenos. 

Os educadores estão virando personagens de clássicas histórias infantis, como Chapeuzinho Vermelho, Malévola, Branca de Neve e Cinderela, chegando até a casa dos alunos através da contação de histórias gravadas em vídeo. A organização do projeto partiu da professora Carina Appel, que auxilia nas gravações e no roteiro, e recebeu o nome de Rede Encantada Viamão. 

— A leitura de histórias faz parte da nossa prática diária em sala de aula. Neste momento de pandemia, pensamos em levar um pouco de magia, de encantamento para os alunos. Não vamos estar ao vivo com o livro na mão e mostrando as figuras, mas podemos incorporar, dar vida aos personagens e fazer uma releitura dos clássicos — conta a educadora. 

Os professores da rede municipal interpretam os personagens utilizando roupas características e um refinado processo de edição, com direito a efeitos especiais e trilha sonora. As gravações acontecem em um estúdio improvisado na garagem da casa da professora Carina. Com o projeto, foi possível identificar outros professores que estão dispostos a gravar um personagem e protagonizar uma história. 

— Também falamos sobre como está a pandemia no "mundo encantado". Levamos o mundo real para os contos de fadas, abordando assuntos como o uso de máscara, a importância de lavar as mãos, os cuidados com os avós que fazem parte do grupo de risco — diz Carina. 

Os episódios são postados todos os sábados, às 16h, no canal do YouTube. Às quartas, no meio da manhã, uma mensagem é enviada aos alunos atualizando como as princesas e os personagens estão enfrentando a pandemia. A professora antecipou o que será apresentado nesta semana aos alunos. Trata-se de uma música ao ritmo de Ciranda, cirandinha adaptada à realidade do isolamento social. 

— Crianças, criancinhas, vamos todos nos cuidar. Evitar sair de casa para o vírus não pegar. Se de casa tu saíres, alguns cuidados terás, usar máscara é um deles, assim te protegerás — cantou a professora durante entrevista à GaúchaZH. 

Segundo a educadora, a ideia de fazer vídeos surgiu da necessidade de conseguir atrair a atenção dos pequenos do início ao fim das aulas. 

— A história tem que prender a criança. Quanto menor ela for, menos paciência vai ter. Quando estamos em sala de aula, é muito mais fácil ter esse domínio. Mas, no trabalho a distância, isso se torna praticamente impossível. Por isso, reinventamos a maneira de contar as histórias. 

Avaliação positiva

A professora Rita de Cássia Delfino da Silva é mãe da Ysadora, cinco anos. A menina estuda no Jardim 2 da escola Bom Samaritano, no bairro Monte Alegre, em Viamão. Com aulas remotas, Ysadora encontra nos vídeos da Rede Encantada uma forma de relembrar o convívio dos colegas:

— A hora do conto sempre é um momento especial na escola. Os amiguinhos sentam um ao lado do outro para ouvir a professora. Mas agora isso não é mais possível. Minha filha diz: "parece que as princesas estão contando a história para mim!". As crianças estão nos ensinando muito nesse período de pandemia — conta Rita. 

O conteúdo não é exclusivo para os alunos da rede municipal de educação de Viamão. A professora Carina conta que recebeu relatos de crianças que acompanharam os vídeos de contação de histórias em outras cidades da Região Metropolitana.

— Ninguém nasce leitor. A pessoa se torna um leitor através dos estímulos que tem ao seu redor. Esse é o nosso objetivo: continuar, mesmo durante a pandemia, estimulando as crianças a desenvolverem o gosto pela leitura — finaliza.