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Colegas fazem vaquinha para ajudar bombeiro que teve perna amputada por sequelas da covid-19 em Erechim

Luciano Pissolatto, 45 anos, recupera-se com a ajuda da esposa e da filha, preparando-se para poder comprar uma prótese

16/09/2020 - 09h32min


Eduardo Paganella
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Luciano Pissolato / Arquivo Pessoal
Bombeiro perdeu uma perna por sequelas do coronavírus

O sargento Luciano Pissolatto, 45 anos, sabe que sua missão não terminou. O coronavírus o assustou, a trombose provocou a amputação de uma perna. Mas a vontade de viver e ser um exemplo para a filha de 11 anos o fazem seguir em frente. Além da família, ele conta com a força dos colegas do Corpo de Bombeiros, que criaram uma vaquinha online para ajudar no tratamento e na compra de uma prótese.

Integrante da 2ª Companhia Especial do Corpo de Bombeiros de Erechim, Luciano Pissolatto entrou na corporação em 1998. Nesses 22 anos de trabalho, acostumou-se a ajudar e salvar vidas em incêndios e resgates. Tudo mudou em maio, ao ser diagnosticado com coronavírus.

 — Um dia, estava no quartel e senti febre, um calor no corpo. Aí foram até os colegas me levaram para atendimento. Em 21 de maio eu fiz o teste e deu positivo para o coronavírus - disse.

O período no hospital durou 28 dias. Pissolatto chegou a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas a intubação não foi necessária. Durante esse tempo, um novo inimigo surgiu na vida do militar: uma trombose venosa profunda identificada na perna direita.

— Eu já fiquei no hospital. Foram 28 dias na primeira internação por coronavírus. Eu estava para ser liberado, só que aí aconteceu isso, da trombose. No meu caso, ele provocou uma inflamação venosa na minha perna —  comentou.

Em julho, devido aos coágulos ocasionados em consequência do coronavírus, Pissolatto teve  a perna amputada na região da coxa. Desde então, o sargento recupera-se com a ajuda da esposa, Adriane e da filha, Antônia, de 11 anos, preparando-se para poder comprar uma prótese.

Vaquinha online

O sentimento de dever em ajudar o colega combalido pelo coronavírus e pela trombose tomou forma entre o Corpo de Bombeiros. A compra, colocação da prótese e o período de reabilitação para adaptação ao equipamento custam cerca de R$ 150 mil, um valor elevado.

Sensibilizados, membros da Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul decidiram acudir e apoiar o colega. Uma vaquinha online foi criada para arrecadar fundos para a compra da prótese e da recuperação. Membro da Abergs, o coronel da reserva José Henrque Ostaszewski destacou que os integrantes da associação decidiram levar a ideia.

— Foi uma ideia da Associação. Eu sou de Caxias do Sul. Nós fomos, eu e um colega, lá a Erechim. Colocamos pra ele a ideia e ele autorizou. A Associação, como uma entidade, capitaneou para realizar uma vaquinha online — destacou o coronel Ostaszewski.

Colegas, amigos e familiares começaram a espalhar o link de arrecadação. A mobilização está em andamento, na expectativa de obter o valor para a compra do equipamento.

— Claro que a gente se se sensibilizou. Ele estava em atividade. É uma atividade essencial. Nós organizamos a vaquinha para que ele possa se recuperar — complementou Ostaszewski.

"Quero ser um exemplo para minha filha"

O isolamento no hospital e o combate contra o vírus fizeram o sargento Pissolatto refletir sobre a vida. Além das dificuldades físicas - o bombeiro perdeu 20 quilos desde maio - o temor das incertezas sobre o futuro rondaram a cabeça do militar durante a recuperação. 

— O isolamento é doloroso. Quando o corona estava fazendo um estrago em mim, eu sofri muito. Eu conversava com minha esposa e filha por telefone. Mas você fica incerto. Não sabe se voltará pra casa — destacou. 

Agora, o futuro profissional também é incerto. Em licença média até o mês de dezembro, o sargento Pissolato será reavaliado por uma junta médica. O receio é ser reformado.   

— Eu sou bombeiro. Eu não sei fazer outra coisa. Eu queria estar trabalhando. Eu queria estar dentro do caminhão. Mas agora eu não posso. Vou arrumar outras formas de ajudar as pessoas. Eu sei que hoje eu vou ajudar as pessoas, principalmente as pessoas com deficiência —  frisou. 

Independente da atividade futura, o sargento sabe Pissolato sabe que a força da família, dos colegas e de doadores vai o levar em frente. A missão do sargento não terminou.

— No início, você fica revoltado. Por que isso aconteceu comigo? Mas coisas ruins acontecem todos os dias. Hoje, estou me recuperando. E a minha família foi para a forma que eu estou hoje. Eu posso seguir sorrindo e sendo um exemplo para a minha filha —  completou.

Trombose pós-coronavírus

Casos como o do sargento Pissolato, de trombose em decorrência da covid-19, não são tão incomuns. O cirurgião vascular do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Melzer Teruchkin, integra um grupo que estuda complicações do coronavírus que causam a coagulação do sangue — condição que pode provocar a trombose. A equipe publicou um artigo sobre com o título "Prevenção e Tratamento das Complicações Tromboembólicas na COVID-19".

De acordo com Teruchkin, conforme a progressão da infecção pelo coronavírus, pode ocorrer uma alteração da cascata da coagulação do sangue. Essa reação tem gerado casos significativos de trombose, podendo evoluir para uma situação mais crítica, de embolia pulmonar.

— O coronavírus faz uma lesão na camada interna dos vasos chamada endotélio. E essa inflamação pode gerar trombose em qualquer lugar do corpo. O mais comum que vimos foi trombose nos membros inferiores —  disse.

Segundo Teruchkin, o grau de trombose é variado. Na maioria dos casos, há uma rápida identificação e o tratamento garante recuperação do paciente. Entretanto, quanto mais grave é a covid-19, maior é o risco de complicações por coagulação do sangue com trombose ou até embolia pulmonar.


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