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Papo Reto 

Manoel Soares homenageia o líder comunitário Paulo Jorge, falecido nesta sexta-feira

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

24/10/2020 - 05h00min


Arquivo Pessoal / Manoel Soares
Paulo Jorge lutava por melhorias em sua comunidade, na Vila Cruzeiro

Era uma tarde de março de 2004, e, de repente, meu telefone toca. Era um homem de voz enrolada, dizendo que queria falar com o “negão” que era o novo repórter da RBS TV. De maneira firme e direta, ele me disse que eu tinha que fazer uma reportagem sobre os horários do caminhão do lixo na Vila Cruzeiro, e que isso era urgente. 

Dias antes dessa ligação, um jovem havia sido assassinado dentro de um ônibus com 11 tiros. Eu contrapus a sugestão de pauta dele dizendo que havia jovens sendo fuzilados em ônibus, e o lixo poderia esperar. Antes que terminasse minha argumentação, ele me mandou ficar quieto e calar a boca. 

Com uma indignação explícita, ele me explicou que a leptospirose estava matando mais que bala de revólver e que a infestação de ratos era por causa do lixo. Segui a orientação dele e fiz a pauta, e é assim que nasceu minha amizade com Paulo Jorge, um mestre na arte de fazer revolução de quebrada. Um gigante que falava com polícia, bandido, político, jornalistas e moradores de rua da mesma forma.

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Nesta foto, ele e minha mãe estavam decidindo melhorias para a comunidade que ele a vida toda chamou de casa. Mas esta cena não vai mais se repetir, porque Paulo Jorge foi fundar uma associação de moradores nas cortes celestiais nesta sexta-feira (23). Não se fazem mais homens como ele, é de uma geração onde a firmeza vinha acompanhada de afeto, é verdade. Sempre vou tentar ser como ele em minhas atitudes. Aos familiares e amigos meu carinho, e ao “velho lobo” da Cruzeiro: Obrigado.


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