Transporte público
Menos da metade das escadas rolantes nas estações da Trensurb funciona
Reportagem circulou pelas 22 plataformas de embarque e desembarque e constatou que muitos dos equipamentos não estão funcionando
Esperar pelo trem nas plataformas de embarque não é um desafio complexo diante do que os usuários passam para chegar até o local. Ainda mais para aqueles que possuem idade avançada ou alguma dificuldade de locomoção. Isso porque, das 43 escadas rolantes disponíveis nas 22 estações da Trensurb, somente 18 estavam funcionando na segunda-feira, quando a reportagem do Diário Gaúcho circulou pelos locais. É menos da metade dos equipamentos disponíveis, representa que somente 41,8% atendem a sua função.
Leia mais
Trensurb perdeu 3,6 milhões de passageiros em 2019
Novos trens da Trensurb voltam a ser retirados de operação por problemas de fabricação
Como a suspensão na reposição de cobradores pode afetar o transporte na Capital
Para complicar, os equipamentos que funcionam não estão distribuídos de maneira igual entre as estações. Entre os 22 pontos de embarque, seis não têm sequer uma escada em operação — entre estes, a Estação Petrobras, que não tem escada rolante nem elevador instalados no local. Em outras 14 estações, pelo menos um equipamento está funcionando — sendo que em quatro destas plataformas, só há uma escada instalada.
E do total de estações, somente duas têm duas escadas em operação. Esse foi o número máximo de equipamentos operando simultaneamente dentro das plataformas encontrado pela reportagem. Isso significa que apenas 9% das estações têm duas escadas operando juntas.
Sem nada
Os destaques negativos começam logo no início da viagem, para quem sai da Capital. Na Estação Mercado, depois de cruzar pela roleta, quem precisar chegar na plataforma só terá uma das quatro escadas rolantes à disposição. Ela fica na plataforma que atende o sentido Novo Hamburgo/Porto Alegre. As estações têm duas configurações, em algumas, os usuários desembarcam no mesmo espaço, independentemente do sentido que venham. Em outras, os trens "dividem" a plataforma em duas, como é o caso da Estação Mercado e do trecho que entre as estações São Leopoldo e Fenac.
Na principal estação da Capital, o industriário aposentado Julio César Cardoso, 46 anos, surpreendeu-se com os equipamentos desativados. Morador de Porto Alegre, ele foi visitar um amigo em Canoas, mas penou para subir até a plataforma de embarque, já que sofre de artrite e tem dificuldade de locomoção.
— Eu achei muito estranho uma estação tão importante com esse descaso. Faz tempo que está assim? — questionou ele, diante de incredulidade com a cena.
Não muito longe dali, ainda em Porto Alegre, a Estação Anchieta também chama atenção. No local, não há elevador e a única escada rolante disponível não funciona. Aliás, conforme apurou a reportagem, somente 14 das 22 estações tem um ou dois elevadores nas plataformas de embarque. Todos eles estavam funcionando durante a passagem da Blitz DG.
Lotação também é queixa entre passageiros
Para o motorista Élio Matos, 55 anos, a situação é complicada na Estação Anchieta. Além dos problemas de acessibilidade, ele aponta outras questões como a limpeza, segurança e superlotação. São males citados por vários usuários, que têm sentido medo diante das aglomerações nos trens. Mesmo circulando fora de horário de pico, a reportagens presenciou trens lotados.
— E não tem um álcool gel nas estações, alguém orientando para dividir melhor as pessoas nos vagões, está bem difícil. Agora, os trens estão parando na ponta das plataformas, então, quem não sabe, sai sempre correndo para alcançar — aponta ele.
Naquelas unidades em que há duas plataformas, uma para cada sentido, chama atenção o caso das estações São Leopoldo, no município de mesmo nome, e Industrial, em Novo Hamburgo. Em cada um dos locais, há quatro escadas rolantes, duas para cada sentido da plataforma. E nenhuma funciona.
Moradora do bairro Vicentina, em São Leopoldo, a doméstica aposentada Terezinha D'Ávila, 68 anos, diz que utiliza as escadas, pois os elevadores acabam demorando. Realmente, os equipamentos testados têm um funcionamento lento. Em horários de pico, se todos passageiros resolvem usá-los, seria impossível. Ainda assim, é ressaltado em boa parte dos equipamentos que eles são destinados as pessoas com deficiência (PCDs) de locomoção, idosos e outros grupos preferenciais.
— Eu ainda tenho energia para subir e descer, mas quem não tem passa trabalho — diz Terezinha.
Situação deve melhorar em novembro
Conforme a Trensurb explicou, em nota, as escadas rolantes estão com seu contrato de manutenção em processo de renovação. A previsão de retorno à normalidade é a partir de novembro. A empresa ressalta que, atualmente, equipamentos são desligados quando apresentam alguma falha. Algumas escadas se desligam por mau uso, sendo necessário refazer a ligação.
Entretanto, a empresa informa que "escadas rolantes são dispositivos para melhorar o fluxo interno das estações e não equipamentos de acessibilidade. Por segurança, pessoas com dificuldade de locomoção devem utilizar elevadores, rampas ou as garaventas — equipamento que auxilia no deslocamento de cadeirantes pelas escadas — disponíveis nas estações".
Desde o início de fevereiro, a Trensurb afirma que adotou medidas para combater a disseminação do novo coronavírus. Assim, todas as composições que chegam às estações terminais Mercado e Novo Hamburgo passam por desinfecção de janelas, portas e barras. Isso também ocorre com catracas, corrimãos, bancos, bilheterias das estações e caixas eletrônicos, desinfetados constantemente com álcool.
Em relação à superlotação, a companhia diz que "com a demanda reduzida — que tem se mantido em 45% da demanda normal —, a oferta atual de trens nos horários de pico — até 25 rodando simultaneamente, muito próxima da oferta normal pré-pandemia, com até 26 trens simultâneos — é suficiente para atender a determinação do governo estadual, que limita a ocupação dos veículos em 50% de sua capacidade". Fora dos horários de pico, não foi informado como é feita a operação.