Quando chega Finados, a gente chora pelos mortos. Ah se fosse só nesse dia. E chorar até alivia. Mas como lidar com os outros 364 dias do ano? A ausência se faz presente é no dia a dia. Naquela vontade de contar pra quem não está mais do nosso lado algo legal que aconteceu. De almoçar junto só mais uma vez. De poder abraçar, pegar a mão, encher de beijo. Não importa quantas flores você levar hoje pra decorar o túmulo dos entes queridos. É ritual e lembrança. Mesmo assim, a falta seguirá viva.

Sabe o que eu mais queria? Sonhar seguido com aqueles que já não tenho aqui. Será que ajuda colocar perto da cama um tapetinho de bem-vindo? Fotos antigas embaixo do travesseiro? Os sonhos têm o poder de confundir a realidade. Conseguem criar um momento a mais de convivência. E quem esquece um sonho lindo desses? Dizem que é uma espécie de visita que os mortos nos fazem. A pessoa aparece igualzinha ao que era? Fala com a gente? Está onde? O sonho é colorido? 

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Foto

Por mais que você homenageie seus mortos hoje, amanhã vai continuar doendo. Pode botar foto na carteira. Retrato na parede. Procurar suas roupas. Assistir de novo ao último vídeo gravado (que sorte). Mas o cheiro da pessoa dentro de casa sumiu. Sua risada já não ecoa mais. Pouco a pouco, vamos esquecendo seu tom de voz. Tomara que fiquem os conselhos e as frases sempre repetidas. Eu lembro das piadas que meu pai contava. Visualizo ele rindo. Mas a sua voz já não é mais tão clara.

Comer moranga com guisado e bolinho de arroz me ajudam a matar a saudade da vó. O coração aperta ao lembrar da minha sogra me mostrando sua bolsa nova. Ao ver o Ricardo envelhecendo, reencontro em suas feições o meu amado sogro (e no rosto da minha mãe, a vó). Minhas tias e tios me abanam dos álbuns de fotos antigas. E assim, vou levando. Hoje vai ser mais um dia sem eles. E prometo me divertir por eles. As mais lindas homenagens a gente faz em vida. Pra quem você vai ligar hoje?