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Confronto de ideias

Primeiro debate do segundo turno valoriza discussão de propostas entre Manuela e Melo

Encontro, realizado nesta quarta-feira pela Rádio Gaúcha, também foi marcado por poucos ataques pessoais entre os candidatos à prefeitura de Porto Alegre

18/11/2020 - 21h09min


Fábio Schaffner
Fábio Schaffner
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Debate foi realizado na redação de GZH, na manhã desta quarta-feira

No primeiro debate do segundo turno, Manuela D'Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB) protagonizaram um franco confronto de ideias sobre o futuro de Porto Alegre, na manhã desta quarta-feira (18). Promovido pela Rádio Gaúcha e sob mediação do jornalista Daniel Scola, o encontro permitiu aos candidatos enfatizarem propostas para problemas crônicos da cidade, salientando as diferentes visões sobre temas caros ao eleitor, como gestão do transporte público e aumento do IPTU, com ênfase na recuperação da economia local no pós-pandemia.

Logo no primeiro bloco, respondendo perguntas formuladas pela produção, eles tiveram de falar sobre a posição da prefeitura diante de um eventual recrudescimento da pandemia no início do próximo ano. Ambos salientaram a necessidade de se manter um comitê de crise, obter gestão própria da vacina e equalizar medidas que preservem saúde e economia.

Lembrados por Scola de que experiências internacionais mostraram que a economia não se regenera com a pandemia em alta, eles foram questionados sobre a decisão final ante uma eventual necessidade de se restringir a atividade econômica.

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— A palavra final será minha, após amplo processo de escuta — garantiu Manuela.

— A decisão será minha e vamos manter a cidade aberta. Esse abre e fecha quebrou muita gente — reforçou Melo.

A divergência surgiu em seguida, na discussão sobre a atualização na planta de valores do IPTU, aprovada na atual gestão. Manuela disse que pretende solicitar ao prefeito o envio à Câmara de Vereadores de um projeto suspendendo em 2021 o reajuste para a atividade comercial. Melo pretende esperar a posse e, nos primeiros dias do ano, solicitar o cancelamento total do aumento.

— Vou propor o cancelamento dos aumentos, tanto comercial como residencial. Nós vamos ter o ISS (imposto sobre serviços), e com os negócios girando ele vai compensar o IPTU — sustentou Melo.

— Queremos suspender o IPTU comercial, porque quem paga é o locatário. Houve ajustes importantes, e o prefeito Marchezan tem razão quando diz que os mais pobres estão pagando menos — justificou Manuela.

Realizado na Redação Integrada de GZH, o embate obedeceu critérios rígidos de segurança sanitária e um distanciamento de dois metros entre os candidatos, separados de Scola por placas de acrílico. Pouco antes do início, já acomodados em suas posições, os candidatos conversaram sobre as regras e firmaram um acordo sobre a preservação da cordialidade e do respeito mútuo. Nos intervalos e durante a passagem da palavra, trocaram gentilezas.

Jefferson Botega / Agencia RBS
Candidatos conversam durante um dos intervalos do debate

No início do segundo bloco, a temperatura subiu durante o debate sobre o futuro da Carris. Manuela sugeriu taxar aplicativos para subsidiar o transporte público e defendeu a manutenção da empresa como estatal, criticando a licitação do sistema realizada no governo José Fortunati (2013-2016), quando Melo era vice.

— Parece que a Manuela é contra licitações. Serviço público a gente tem de licitar, não é para dar aos amigos. A licitação foi feita e temos de repactuá-la, adequar aos interesses da cidade. A Carris responde por 22% do sistema e vai estar na repactuação. Ela pode ser pública ou não, desde que funcione — reagiu Melo.

— Eu defendo licitação, mas bem feita, que leve em conta os interessa da população. A que vocês fizeram deixou a tarifa mais cara e o serviço pior. A Carris foi já foi a melhor empresa do Brasil e foi pessimamente administrada no tempo em que tu participou da gestão — rebateu Manuela.

Em vários temas, houve convergência. Manuela e Melo defenderam a participação da prefeitura na segurança pública, inclusive com investimentos privados a partir de convênio com instituições da sociedade civil, como já ocorre no governo do Estado. Ambos defenderam a busca por recursos internacionais para contenção de alagamentos, citaram a importância do fomento ao turismo, defenderam o Carnaval de rua e a continuidade das obras na orla do Guaíba.

A visão distinta voltou quando foram convidados a falar sobre a gestão do Dmae. Melo pregou a concessão dos serviços à iniciativa privada, enquanto Manuela defendeu o controle estatal no fornecimento de água e esgoto.

— É parceria público-privada na veia — resumiu Melo.

— Eu votei favorável às parcerias público-privadas na Câmara, mas no Dmae sou contra — disse Manuela.

Após duas horas discutindo propostas e soluções, Melo e Manuela saudaram o formato dinâmico, a possibilidade de abordar inúmeros temas e sobretudo o nível elevado do debate, sem ataques pessoais. Todavia, não deixaram de apontar as diferenças entre si.

— Tem dois projetos diferentes e que precisam ser respeitados. Eu sou o candidato da liberdade econômica. Tem a outra candidata, que eu respeito, e que defende tudo estatal. Para mim, o importante é o serviço ser eficiente, se é prestado pelo público ou privado, o eleitor não quer saber — pontou Melo

— Fiquei muito feliz com o nível da discussão. E o ponto central são as experiências que temos. A do Sebastião Melo é também ter sido responsável pelo abandono da nossa cidade. A minha foi lutar em Brasília para que o dinheiro das creches chegasse. A dele foi a de não concluir as obras nas creches — respondeu Manuela.

Ao cabo, tentaram conquistar parte dos 33% de eleitores que não foram às urnas no domingo, fazendo da Capital a campeã de abstenção no país.

— Para as pessoas se sentirem motivadas a votar, elas têm que acreditar que a democracia e a prefeitura fazem diferença — sintetizou Manuela.

— Um debate maduro como fizemos hoje vai despertar a vontade de ir as urnas em muita gente que não foi votar — disse Melo.


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