Papo Reto
Como a mãe de Manoel Soares, a distância, evitou que mulher pulasse de ponte
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
No último dia 10 minha mãe completou 60 anos de idade. Eu, morando em São Paulo, não pude dar o abraço que ela merecia. Liguei cedo e, ainda na cama, falamos sobre a vida e sobre como eu preciso que ela viva mais 60 anos.
Ao fim da ligação, entrei ao vivo no Encontro para falar sobre o racismo que rolou na Liga dos Campeões e aproveitei para mandar beijo para minha mamãe. Patrícia Poeta, carinhosa como sempre, me acompanhou na homenagem e mandou beijo pra minha velha.
Depois disso, fui ao centro da cidade resolver umas paradas e, para minha surpresa, uma mulher negra estava na parte externa de uma ponte, pronta pra se atirar. Uma plateia, de celular na mão, esperava para registrar a imagem. Poxa, no dia do aniversário de minha mãe ninguém ia se matar na minha frente. Atravessei meu carro no meio da avenida e fui para o papo com a mulher. Falamos sobre a vida e ela me contou que mulheres negras são tratadas como animais domésticos ou objetos sexuais. Homens negros e brancos não respeitam seus sentimentos.
Choramos juntos, e depois de muito papo ela decidiu descer. Em lágrimas, me pediu um dinheiro, pois queria beber todas. Eu dei. Não tinha como julgar naquela hora. Mãe, mesmo a 1.200 quilômetros, a senhora salvou a vida daquela mulher. Entendem por que digo que minha mãe é...?