Coluna da Maga
Magali Moraes e a primeira mordida
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Na escola, se alguma criança morde o braço do coleguinha é o maior rebuliço. Os pais nunca estão preparados para a primeira mordida. Agora se for mordida de mosquito na perna, já sabe: muitas virão. Adulto ou bebê, ninguém está livre. Já a primeira mordida no seu hambúrguer preferido é puro prazer. Que a temperatura e o sabor estejam exatamente como você guardou na memória. A maciez do pão. A suculência da carne. A crocância da alface e do tomate. A quantidade exata de molho.
Meu hambúrguer número um, o mais adorado do momento, eu não peço por telentrega. Faço questão de ir lá comer pessoalmente pra não frustrar a expectativa. Tem que ser uma experiência perfeita, sabe? Na primeira mordida, o inevitável: meus olhos reviram. Está tudo ali. Aroma, combinação de ingredientes, textura certa. Igual à primeira mordida na batatinha que vem junto. Pode ter certeza que as próximas mordidas também serão inesquecíveis. Desde que você não engula tudo rápido.
Boca
Falando nisso, a primeira mordida em um brigadeiro pode ser a última. Nhac! Como julgar quem coloca o doce inteiro na boca só pra provocar uma explosão de alegria? A língua tenta processar a informação, os dentes mal entendem o que está acontecendo. Pode chamar de gula. Ou a festa das papilas gustativas. Por outro lado, algumas pessoas comem tão aos pouquinhos um doce que, de certa maneira, cada mordida é como se fosse a primeira. Demora uma eternidade entre elas.
A primeira mordida também pode ser tensa. Testar uma receita nova é sempre correr risco. E quando a primeira mordida é um suplício? Te pegam de surpresa, você não gosta daquele prato e vai ter que comer. Pensa positivo. Bebês formam o paladar nas primeiras mordidas. Mordem até cadeira e mesa se deixar. Tudo é descoberta. Menos adulto morder a ponta do lápis (que é estresse). Ou morder a língua falando o que não devia. Chegou mais um fíndi pra gente saborear. Qual vai ser a sua primeira mordida?