Papo Reto
Manoel Soares: "Acredito que quem mata morre um pouco também"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Quando chega esse período, nas quebradas, as emoções se acirram. Levando em conta o ano difícil que tivemos, piora ainda mais. É comum as taxas de homicídios irem para números assustadores. Esse aumento não é por acaso, as promessas de morte começam a ser cobradas por jovens e adultos que flertam ou são do crime.
Para quem não é de quebrada, essas mortes podem parecer somente acertos de contas, mas quem conhece a rotina do chão batido sabe que, por trás de um corpo caído, sempre tem uma mãe que sofre ou filhos que serão criados sem pai. Óbvio que não serão essas linhas do Diário Gaúcho que vão salvar a vida de ninguém, mas acredito que quem mata morre um pouco também.
Meu apelo é: antes de puxar o gatilho, pense. Será que vale a pena? Será que um dia Deus vai me perdoar? É na minha mão que esse maluco tem que encontrar os sete palmos? Nos trabalhos que fiz com jovens infratores, conheci muitas pessoas condenadas por assassinatos. Todos tinham perdido o brilho do olhar. É como se, junto com a vida que se foi, a beleza de viver de quem matou fosse também.
Gratidão
Não deixe de tirar a vida por amor ao seu desafeto, mas por amor a você. Sua mãe não lhe colocou neste mundo para tirar outra vida, mas para trazer outras vidas. Quem fica dando mole vai encontrar o que merece, mas não precisa ser através de você. Eu já senti esse desejo absurdo de fazer minha própria justiça e sentar o dedo, mas sou grato por ter ouvido um amigo que me disse exatamente o que estou dizendo a você agora.
Descansa seu gatilho e preserve o que existe de bom em você. Vai ver que ter resistido a esta tentação agora vai mudar sua vida. E não se preocupe com a promessa que fez a essa pessoa, pois, antes, você prometeu a sua mãe ser uma pessoa correta, e sempre vale a primeira promessa feita.