Assim do nada, a minha Havaianas rasgou. Poxa, isso não se faz. Algumas certezas na vida a gente precisa ter: as legítimas não deveriam estragar nunca. Pior que antes ela nem soltou as tiras. Seria um aviso prévio, sabe? Te prepara e desapega. Foi de repente, dando passos sonolentos na cozinha enquanto eu fazia meu café da manhã. O pé direito (logo ele) travou e trupiquei sem motivo. Aquela parte redondinha que tranca as tiras no solado rasgou. Deu bom dia e adeus ao mesmo tempo. 

Não sei você, mas eu não coleciono diversos pares de chinelo. Escolho um e uso até cansar (ou ele se entregar). É pra ser funcional e topar todas sem me fazer enjoar da estampa ou cor. Como se fosse uma continuação do pé. Fui pesquisar no YouTube aqueles truques de consertar a tira com parafuso ou prego. E o medo de pisar em falso? Já quebrei o dedinho do pé por muito menos, e passei um janeiro inteiro enfaixada. Se me machuco com chinelo em bom estado, imagina com um remendado. 

Leia outras colunas da Maga 

Bordão

Os mais vividos vão lembrar do famoso bordão do Chico Anysio nas propagandas da Havaianas: "Não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro". Cresci acreditando nessa verdade. Mudaram as décadas e até o século. As Havaianas sempre foram pra mim uma referência de solidez (apesar do conforto do solado). Essa não foi a primeira vez e nem será a última que me despeço de uma tira arrebentada. Quando a marca é parte da nossa história, a gente supera a perda e culpa o acaso.

Por causa da pandemia (e trabalhar de casa), levei muito tempo pra aposentar as pantufas e adotar os chinelos como o novo uniforme. Essa Havaianas traidora me acompanhou em várias reuniões. Me amparou nas tensões. Se eu demorar muito pra comprar outra, vou acabar adotando os pés descalços. O que vem depois? Fazer reunião enrolada na toalha com a câmera do computador fechada? Ter algo nos pés, mesmo um par de chinelos, dá uma certa formalidade. Havaianas, volta aqui pra reunião!