Parceria com a China
Tem dúvidas sobre a CoronaVac? Veja perguntas e respostas sobre a vacina do Instituto Butantan
Eficácia geral do imunizante é de 50,38%, o que significa que reduz pela metade as chances de manifestação de sintomas do coronavírus
Quando a eficácia geral da CoronaVac foi revelada nesta terça-feira (12), diversas dúvidas surgiram: por ser de 50,38%, a vacina contra covid-19 do Instituto Butantan seria pior do que a da Pfizer (95%) e a da Moderna (94,5%), por exemplo? Como o percentual foi diferente do que foi divulgado anteriormente, de redução de 78% nas chances de adoecimento em quadro leve e de 100% nos casos moderados e graves?
A vacina só poderá ser aplicada no Brasil a partir da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Butantan já fez o pedido de uso emergencial, e a agência reguladora deu prazo de até 10 dias para fornecer uma resposta (a questão deve ser analisada em uma reunião no próximo domingo). Até agora, o Butantan já recebeu 11 milhões de doses importadas da China.
O ministro Eduardo Pazuello projeta o início da vacinação com a CoronaVac no Brasil para 20 de janeiro com as primeiras 6 milhões de doses que o Ministério da Saúde deverá receber do Butantan — foi assinado um contrato para 100 milhões de doses. O governo de São Paulo definiu o começo da aplicação no Estado em 25 de janeiro.
Confira abaixo uma série de questões a respeito da vacina chinesa:
Qual a eficácia geral da CoronaVac?
50,38%.
O que isso significa?
Que a CoronaVac reduziu pela metade os adoecimentos por coronavírus em qualquer intensidade da doença. O estudo não acompanhou se as pessoas poderiam infectar outros indivíduos, uma incógnita para outras vacinas também.
O estudo da CoronaVac contou com 9.252 profissionais da saúde, sendo que 4.653 foram imunizados e 4.599 receberam placebo – isto é, são o grupo que serviu como base para os cientistas monitorarem se a vacina de fato funcionaria.
Por que a eficácia difere do anunciando anteriormente?
Apesar de diferentes, não existe contradição entre os números: eles apenas se referem a grupos de voluntários com gravidades diferentes de sintomas.
A eficácia geral da CoronaVac é de 50,38%, o que significa que a vacina reduz pela metade as chances de manifestação de sintomas para coronavírus, fossem sintomas muito leves, leves, moderados ou graves. O estudo não acompanhou assintomáticos.
As eficácias divulgadas na semana passada se referem ao que cientistas chamam de “desfecho secundário” – ou seja, os efeitos da vacina para quadros específicos de covid-19. A CoronaVac reduziu em 78% as chances de adoecimento em quadro leve e em 100% os casos moderados e graves (que exigem internação em leitos clínicos ou Unidades de Terapia Intensiva), o que previne, por consequência, a morte.
Entenda os números do estudo
- 9.252 pessoas fizeram parte do estudo.
- Destas, 4.653 foram vacinadas com a CoronaVac e 4.599 não foram vacinadas.
- Nos dois grupos, 252 pessoas se infectaram
- Dos infectados, 167 não haviam sido vacinados e 85 haviam recebido a CoronaVac
- Desta forma, quem tomou a CoronaVac ficou 50,38% mais protegido contra o coronavírus.
- Eficácia geral para sintoma muito leves, leves, moderados e graves: 50,4%
- Eficácia em casos leves: 78%
- Eficácia em casos moderados e graves: 100%
A eficácia é para todos os tipos de pessoas?
Não. Foram testados profissionais da saúde com 18 anos ou mais. O estudo ainda não incluiu grávidas, crianças ou bebês, e pessoas com doenças imunológicas, neurológicas ou alérgicas foram excluídas.
A taxa de 50,38% de eficácia geral é ruim?
Não. Apesar de a CoronaVac ter eficácia bem menor do que outras vacinas – a da Pfizer, por exemplo, chegou a 95% –, nenhum médico afirma que uma proteção geral de 50,4% seja ruim no atual momento da pandemia.
O patamar está acima do mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é de 50% na proteção geral.
O resultado é positivo primeiro porque a vacina tem potencial de reduzir pela metade as buscas de pacientes com quadro leve de coronavírus por postos de saúde e diminuir em 100% as chances de quadro moderado ou grave da doença, o que implica menos mortes e procura por hospitais.
— A gente acabaria com a pandemia e principalmente com a sobrecarga do sistema de saúde. Essa é uma doença que ocupa de um terço a um quarto dos leitos hospitalares. Em nenhuma doença até este momento se viu isso. Conseguir reduzir esse nível de ocupação e de sobrecarga é o que a gente quer, mesmo que tenhamos uma circulação viral ainda presente na comunidade — afirmou à Rádio Gaúcha Fabiano Ramos, médico infectologista e coordenador dos estudos da CoronaVac no Rio Grande do Sul.
Os 100% de proteção contra casos moderados e graves ainda não estão consolidados: como houve apenas sete casos graves diagnosticados nos 4.599 pacientes do grupo placebo, mais tempo de estudo precisa transcorrer – ou seja, mais pessoas que não tomaram a vacina precisam se infectar para haver a confirmação do quanto a CoronaVac protege os vacinados contra sintomas graves. O próprio Butantan reconhece a limitação, mas afirma que a proteção contra casos mais graves parece ser uma tendência.
— É um excelente notícia. Teremos 50% de pessoas a menos buscando atendimento de saúde e uma proteção de 100% para casos que procurariam hospitais e UTIs. Teremos que vacinar mais as pessoas (para alcançar a imunidade de rebanho), mas, neste momento, no qual queremos combater rapidamente a pandemia, essa vacina é maravilhosa. Os paraefeitos (efeitos adversos) são, também, mínimos — afirma Luciano Goldani, professor de Infectologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A eficácia da CoronaVac é ruim frente a outras vacinas?
Não. Outras imunizações que fazem parte do Plano Nacional de Imunização (PNI) têm eficácia semelhante à da CoronaVac e trazem grandes benefícios à saúde pública ao prevenir milhões de mortes todos os anos.
— A vacina da rotavírus tem 40% de eficácia para eliminar doença e 80% para eliminar óbitos. Hoje, não vemos mais mortes por rotavírus no pais — destacou à Rádio Gaúcha Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Outro exemplo é que a vacina da gripe tem eficácia entre 60% e 70%, mas, em alguns anos, a depender do vírus influenza que circule, ficou por volta de 50%.
Frente a outras vacinas contra a covid-19, a CoronaVac de fato tem eficácia menor. A da Pfizer tem 95%; da Moderna, 94,5%; da Gamaleya, 90%; da AstraZeneca, entre 62% e 90%.
Qual a vantagem da CoronaVac frente a outras vacinas?
A vacina do Butantan tem a seu favor, assim como a vacina de Oxford, a facilidade na logística de distribuição: não é preciso um ultracongelador para o armazenamento. Basta usar os mesmo equipamentos de todos os anos para a vacinação dos brasileiros contra qualquer doença.
Além disso, analistas destacam que o Brasil não tem nenhuma vacina, então, uma imunização que reduza pela metade a chance de adoecer já é uma grande conquista em termos de saúde pública.
Por que a eficácia da CoronaVac foi menor?
Uma possível explicação, dada por Ricardo Palácios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, é de que o estudo analisou profissionais da saúde, que estão em maior risco de exposição. Assim, no fim do estudo, mais pessoas foram contaminadas e, por consequência, a eficácia geral da CoronaVac foi menor. Leia mais detalhes nesta reportagem.
Por que a eficácia é diferente entre países?
A CoronaVac apresentou uma eficácia geral de 50,4%, abaixo dos 91% na Turquia e dos 63,5% na Indonésia. O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, explica que estudos podem ter desempenhos diferentes a depender do país por conta da população escolhida, da idade e da comorbidade, mas também de fatores externos, como a demografia da população, a profissão (algumas se expõem mais à covid-19), o clima (muita poluição faz mal à saúde) e o nível de pobreza da região.
— Uma população com situação econômica mais favorável tem menos pressão de outras doenças. No caso do rotavírus, a vacina em países desenvolvidos tem até 95% de eficácia. Em países pobres, fica entre 40% e 50%. Em compensação, o impacto da vacina é muito maior em países pobres porque a carga da doença é maior e o sistema de saúde é menos preparado para lidar com formas graves. Em países pobres, morrem mais pessoas de diarreias — afirma Cunha.
A vacina vai impedir que eu infecte meus familiares e amigos?
Nenhum estudo está acompanhando isso, portanto, não há resposta para essa pergunta. Analistas especulam que as vacinas não devem impedir que uma pessoa contaminada infecte outras, o que exigirá que sigamos usando máscara e evitando aglomerações até o Brasil alcançar a imunidade de rebanho.
Quais foram os efeitos adversos?
A CoronaVac é considerada uma vacina extremamente segura. Não houve registro de efeitos adversos graves, e apenas 0,3% dos vacinados tiveram reação alérgica. Dos efeitos leves, o mais comum foi dor no local da injeção, mas também foram registrados dor de cabeça, fadiga e dor muscular.
A vacina poderá ter a segunda dose adiada?
O Ministério da Saúde cogita adiar a segunda dose da vacina de Oxford, o que levantou especulações sobre a possibilidade de também postergar a segunda injeção da CoronaVac.
O estudo da vacina chinesa estipulou um intervalo de 14 dias, mas, na coletiva de imprensa, o diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, afirmou que o intervalo foi desenhado porque os voluntários eram profissionais da saúde, em maior risco para a doença.
— Ao encurtar o tempo entre as doses, pode ter um menor tempo de resposta imune. Um intervalo de quatro semanas seria excelente e não teria impacto — afirmou Palácios.
Mas o presidente da SBIm, o médico Juarez Cunha, faz a ressalva de que, com uma eficácia de 50,4%, há risco de apenas uma dose inviabilizar uma imunidade suficiente aos brasileiros.
— Se, com duas doses, eu tenho 50% de eficácia, então com uma dose eu terei uma eficácia menor. Há risco maior de postergar a segunda dose — afirma.