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Papo Reto 

Inspirado no "BBB", Manoel Soares explica o que é a afroridade

Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados

13/02/2021 - 05h00min


Manoel Soares / Arquivo Pessoal

Sabe a angústia que você sentia assistindo essas últimas semanas de Big Brother? É porque faltava um sentimento que é comum nos terreiros de macumba, no samba, no futebol, nos bailes funk, nos almoços de domingo onde a porta abre às 9 da manhã e não fecha até as 11 da noite. 

Esse sentimento é a afroridade, uma versão preta da sororidade existente entre as mulheres. Sabe quando dois negros que nunca se viram se cumprimentam com um aceno de cabeça ao se cruzar na rua? Isso é afroridade. Sabe quando a Maju passa na TV e uma senhora de 100 anos fica falando com a tela, elogiando? Isso é afroridade. Afroridade é a conexão pan-africana que faz da pele negra um só povo. 

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Os jovens que criavam verdades de internet baseadas nos reflexos da dores dos seus antepassados e nos traumas das próprias vidas se perderam nas curvas sinuosas do conhecimento empírico e orgânico. Acabaram pegando uma autoestrada onde essas verdades ancestrais foram esquecidas, curvas que não passavam pela rotina confusa, linda e contraditória existente nas favelas e periferias brasileiras. 

Querendo ser entendida e palpável, parte da militância jovem se transformou no monstro que combatia. Armas como tirania, agressividade e falta de sensibilidade humana foram trazidas para uma guerra onde a nossa maior munição era a capacidade de sentir o outro em nossas veias. Sim, a militância está se repensando, a ditadura dessa juventude lacradora está na mira dos black power grisalhos que olham e dizem quem não foi por isso que Lélia Gonzales, Abdias do Nascimento e Zumbi lutaram. Mas acordamos, e nossa afroridade está sendo colocada em cada copo de pensamento que construímos. Esse BBB alertou a militância negra de que algo precisa mudar, e já está mudando.


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