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Papo Reto

Manoel Soares sobre a positividade tóxica: "Encontrar o ponto certo de acolhimento  é qualificar nosso afeto"

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados

20/02/2021 - 05h00min


Manoel Soares / Arquivo Pessoal

Sabe aqueles papos de autoajuda que têm como objetivo levantar a pessoa que está no fundo do poço? Pois é, acho que eles eles têm uma função espetacular na vida das pessoas. Porém, essa semana, conversando com uma tiazinha que passou por poucas e boas, ela me deu um papo que me botou para pensar. Ela me falou sobre positividade tóxica. Na minha cabeça, essas palavras nem tinham como estar na mesma frase, porque tóxico é ruim é positivo é bom, mas ela explicou. 

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Depois de ter perdido dois filhos para o câncer e encontrar o marido enforcado na sala de casa, ela não queria ver a beleza do sol brilhando, ela queria poder viver a dor daquele momento com todo amargor que ele lhe empurrava garganta abaixo. Porém, amigos e familiares tentavam, de bom coração, tirar ela da dor que era parte de seu ciclo de luto e luta. Mas as pessoas não entendiam que a dor deles em vê-la sofrer era pior que a dor que ela estava sofrendo. Chegou um momento que ela se afastou de todos para viver seu momento, entendeu que aquela positividade toda tinha se tornado tóxica para ela. A dor é uma ótima professora, ela bate e te manda levantar para bater novamente, e vai fazendo isso até que você não consiga mais levantar. 

Nossa meta de vida é aprender a desviar dos golpes da vida, mas esse aprendizado só vem com a experiência das porradas que levamos. Quando amigos generosos tentam amortecer essas porradas, tiram de nós também a possibilidade se viver a lição preciosa do sofrimento que nos faz mais fortes. Encontrar o ponto certo de acolhimento para que nossa positividade não seja tóxica e invasiva é qualificar nosso afeto e respeito ao outro. É nóis.

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