Restrição de horário
Com fechamento mais cedo, supermercados têm filas e reclamação de clientes
Decreto do governo do Estado determina que estabelecimentos encerrem atividades às 20h para tentar frear a pandemia; reabertura pode ocorrer a partir das 5h
O fechamento mais cedo dos supermercados no Rio Grande do Sul como medida para conter o avanço da pandemia deixou em lados opostos o governador Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). O emedebista chegou a publicar, na semana passada, uma foto onde aparece a sua cabeça e, ao fundo, sete pessoas na sua frente, na fila do caixa de uma loja na zona sul da cidade.
— Faz sentido fechar supermercados às 20h? — questionou Melo, informando que a foto tinha sido tirada às 19h43min.
De um lado, Leite sustenta que o fechamento mais cedo faz com que as pessoas deixem de circular até tarde nas ruas. De outro, Melo argumenta que a medida provoca aglomerações entre o fim da tarde e o início da noite nesses estabelecimentos.
Diante dessa polêmica envolvendo os dois políticos e das discussões nas redes sociais sobre o tema, a reportagem de GZH percorreu lojas de três grandes redes de supermercados da capital gaúcha entre 18h e 20h. Uma delas foi visitada no fim da tarde e no momento do fechamento.
Foi possível perceber o descontentamento dos clientes em relação ao horário. Todos que conversaram com a reportagem reprovaram a iniciativa. Uns, por ficarem com horário reduzido para compras ao saírem do trabalho, outros, por acharem que a medida provoca aglomeração nos caixas nessa faixa horária final. Os locais registravam filas, mas longe de estarem lotados.
Na Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon, a reportagem visitou um supermercado em dois horários diferentes. Por volta de 18h, eram cerca de sete pessoas em cada um dos cinco caixas, mas o atendimento era rápido e o local não tinha tantos clientes.
— O que percebemos com essa redução de horário é que aumentamos as vendas pelo nosso aplicativo por telentrega e por drive-thru (cliente busca as compras na loja). Até aumentou o movimento na loja no fim de tarde, mas nem tanto — disse Luna Maciel, gerente da loja.
Quando a reportagem voltou ao local e acompanhou o fechamento das portas, às 20h, havia pouca gente dentro e ninguém mais entrava. Para Luna, o fechamento do comércio na região ajudou a evitar a aglomeração entre o fim de tarde e o início de noite.
— É só olhar ali na Azenha. Está tudo fechado. Quando o comércio está aberto, o pessoal sai do trabalho e vem aqui comprar — relata a gerente.
Por volta de 18h30min, na Avenida Getúlio Vargas, o supermercado visitado pela reportagem registrava filas nos caixas e na padaria, mas o atendimento era ágil e rápido. O público nos corredores, no entanto, já não era tão grande, sinal de que as pessoas que ali estavam já vinham encerrando as compras.
A pedagoga Elzira Tischer de Lima, 61 anos, recém havia saído do trabalho. Ela reclamava do fechamento mais cedo.
— Isso provoca muita aglomeração. Fica apertado para as pessoas que estão saindo do trabalho. Imagina eu, que sou de grupo de risco, tenho que enfrentar essa aglomeração. Teria que continuar até as 22h. Aglomeraria menos — opinou.
A estudante de Publicidade e Propaganda Pyetra Schreiner, 19, escolhia pães com a mãe. Para ela, a solução para evitar as aglomerações seria outra.
— Em vez de reduzir o horário ou manter o mesmo, deveria é aumentar o horário de funcionamento. Fechando nesse horário, olha quanta gente tem. Ainda mais no início de mês, quando as pessoas recebem o salário — ponderou a estudante, ao apontar para a fila da padaria, que tinha cerca de 10 pessoas aguardando.
No supermercado visitado pela reportagem na Avenida José de Alencar, bairro Menino Deus, por volta de 19h30min, os corredores já estavam vazios. Mas as filas nos caixas eram grandes e o atendimento muito demorado, indicando que a loja fecharia e clientes continuariam em atendimento no local.