Se eu contasse o que aconteceu esses dias, você não ia acreditar. Vou contar mesmo assim. Nada grave, menos mal. Sou uma observadora do cotidiano, e dessa vez comprovei como a energia da casa pode desestabilizar por alguns momentos e gerar um pequeno caos. Não a energia da tomada, mas aquela que nos circunda. Eu acredito nisso, e você? Justo na noite em que precisava escrever essa coluna e procurava assunto. "Pronto, agora tu já tem o que escrever", disse o Ricardo.

Eu estava lendo mais uma notícia horrorosa sobre as mortes por covid e resolvi abrir um vinho pra brindar à saúde. É isso ou remédio pra dormir, ultimamente. Quem disse que a rolha colaborou? Foi como o saca-rolhas encontrar concreto. Tentei com um elétrico, sou prevenida. Aí a rolha esfarelou. Minha última tentativa foi com um apetrecho que comprei, e descobri que não sei usar. A rolha afundou. O vinho espirrou na minha cara e por toda a roupa (adivinha se eu não estava de branco?).

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Filtro

Com uma mão, eu limpava o caos. Com a outra, coava o vinho com filtro de papel pra passar café. Quebra o galho, sabia? Quando achei que a situação estava controlada, meu filho (que cozinhava ao lado) quebrou um vidro de azeite. Imagina o chão da cozinha. Farelos de rolha, pedaços de vidro, um fio de azeite escorrendo do balcão alagado, e a gente de pés descalços. Enquanto eu recolhia os cacos e pedia jornal pra envolver a sacola plástica e ninguém se machucar, senti algo cortar a perna. 

Corre pro banheiro atrás de band-aid, acaba de limpar o chão ou toma o maldito vinho? Fui cuidar da mais nova cicatriz. O curioso é que esse caos tem começo, meio e fim. Logo, a paz volta a reinar e parece que a energia da casa se reacomoda. Antes disso, me servi da última panqueca e a massa abriu, espalhado no prato todo o recheio. Respirei fundo, enrolei de novo a panqueca e comi. Brindei, claro que sim. Com um vinho duplamente filtrado e ainda com resquícios de rolha. Saúde!!