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Coluna da Maga

Magali Moraes e o cheiro da chuva

Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

12/03/2021 - 10h29min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Ando com saudade de coisas tão simples. O cheiro da chuva mansa que molha o asfalto, por exemplo. Dá pra sentir de dentro de casa, alguém dirá. "É só abrir a janela". Mas eu sei que a experiência é melhor quando a gente está na rua e começa a chover de repente. Esquece a confusão que logo vai virar o trânsito, o guarda-chuvas no armário e as roupas penduradas no varal. Te concentra no momento em que o cheiro da chuva se mistura ao vento que levanta as folhas e refresca a cidade.

Tenho passado muito tempo cercada de paredes. É claro que agradeço por poder trabalhar de casa e me sentir segura. Só não consigo mais ver a chuva apenas da janela. Quero sentir os primeiros pingos batendo na pele. Sinto falta da vida que acontece lá fora, da chuva que surpreende. Esses dias, bem na hora em que eu ia buscar um remédio aqui perto, começou a chover. Minha primeira reação foi deixar pra manhã seguinte. Daí me dei conta da oportunidade: a chuva estava me chamando.

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Olfato

Caminhei menos de duas quadras, sem pressa, dando tempo pra que o meu olfato captasse bem aquele cheiro de asfalto de banho tomado. Olhei ao redor pra cuidar a reação das pessoas, e ninguém parecia prestar atenção na chuva. Cada um sabe de si, né? Pra mim, foi como pular poças d'água quando se é criança. Uma adulta saudosa da vida normal, fugindo de casa por 10 minutos pra se distrair com a chuva. Abri a sombrinha e vi o forro de nuvens brancas no céu azul. Nem lembrava desse detalhe.

O engraçado é que a minha mesa de trabalho fica colada em uma janela, mas eu mal enxergo lá fora. Os olhos sempre hipnotizados pela luz do computador. E quando viro a cabeça em direção ao vidro, me sinto presa em um timelapse: aquele efeito que usam nas novelas e filmes pra acelerar a passagem do tempo. Amanhece e anoitece rápido demais. Por isso é importante a gente parar pra sentir o cheiro da chuva. Tomara que no fíndi você possa matar a saudade de coisas simples assim.  



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