Amanhã começa a minha estação preferida. O outono sempre me inspirou, e sou muito agradecida a ele. Já escrevi várias colunas sobre esses três meses cheios de transformações que acontecem na natureza e na gente. As folhas caem das árvores não só pra colorir as calçadas. É pra mostrar que tudo na vida é ciclo. E isso me faz bem: sei o que esperar do outono, sei o que vai acontecer, sei quando começa e termina. Vai dizer que não dá uma paz interior conhecer o funcionamento das coisas?

O outono traz equilíbrio. Nos afasta dos excessos do verão e nos conduz pra intensidade do inverno. O calorão vai se despedindo, a temperatura vai caindo. Pouco a pouco, vamos ajustando o relógio interno. Sabemos quando é hora de colocar na cama uma cobertinha. De vestir um casaco. De esquentar a água pro chá. De fazer sopa. De mudar a temperatura do banho. De embaçar os vidros. Outono é acolhimento. Era quando a gente passava a sentir vontade de ficar mais tempo em casa, lembra? 

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Chá

Neste outono, tenho medo de ficar sem inspiração. De não sentir o gosto da sopa e o cheiro do chá. De não estar protegida colocando alguma manga comprida. O frio assusta bem menos no momento. As cobertas já não garantem uma boa noite de sono. Ficar em casa não é opção, é necessidade. A previsão do tempo interessa bem menos que as datas e filas de vacinação. De onde eu vou tirar assunto pra escrever sobre esse dia a dia tenso que não dá tréguas? As estações do ano ainda interessam?

Tem dias em que eu fujo das notícias, mas não posso negar as dores que estão acontecendo ao meu redor. Nem sempre consigo sobrevoar a realidade e falar de levezas. O que mais eu quero neste outono é achar inspiração. Procurar receita de quentão, e não os números recentes das UTIs. Prestar atenção nas folhas caídas no chão, e não nas máscaras que funcionam melhor. Me perdoe se eu ando repetitiva. Tomara que a nova estação reequilibre, renove e traga bons assuntos pra conversar.