Casos graves
Pela primeira vez em 42 dias, UTIs da Capital têm menos de 100% de ocupação geral
Alas de tratamento intensivo registram 653 internados com diagnóstico confirmado para a covid-19
Depois de um mês de março marcado pela superlotação nas unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre, o índice de ocupação geral na tarde desta segunda-feira (12) é de 97,5%. É a primeira vez que esse indicador fica abaixo da linha de 100% nos últimos 42 dias: em 1º de março, as alas de tratamento intensivo tinham 99% de lotação.
A atual oferta de leitos de UTI da Capital é de 1.017, e há 989 pacientes graves recebendo cuidados nessas alas e três leitos bloqueados para procedimentos de manutenção. O saldo é positivo — há 25 leitos disponíveis —, mas a fila de espera ainda é uma realidade. Na tarde desta segunda-feira, 114 pessoas esperam por transferência para uma vaga de UTI. Dessas, três estão recebendo cuidados em unidades de pronto-atendimento (UPAs) e 111 estão em leitos de emergência que foram adaptados para doentes graves.
De acordo com o painel da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), dos 18 hospitais que são monitorados, sete ainda estão com sobrecarga nas suas estruturas e atendem acima da linha dos 100% de ocupação. Os mais lotados são o Fêmina (150%), o Conceição (145,7%) e o Moinhos de Vento (130,3%). Na consulta ao painel feita por volta das 16h, o Hospital Porto Alegre, que oferece 18 leitos intensivos, era o único que não havia submetido dados atualizados ao sistema.
— Há cerca de 14 dias estamos percebendo uma diminuição sustentada na taxa de ocupação dos leitos de enfermaria. O fato de ter menos pacientes internados começa a refletir cerca de 10 dias depois na ocupação de leitos de UTI. Mas, no Conceição, essa diminuição não é tão visível, pois temos um passivo significativo de pacientes graves internados na emergência, em ventilação mecânica, esperando leito de UTI. Assim, o leito intensivo é liberado, mas, no final do turno, já é ocupado de novo — afirma André Luiz Machado, infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Olhando para os dados de internações relacionadas ao coronavírus, observa-se que, do total de pacientes que estão recebendo cuidados intensivos, 28 têm diagnóstico suspeito para a covid-19 e outros 653 são casos confirmados da doença. Houve uma diminuição de 20,4% nesse indicador, já que em 29 de março o número de pacientes com covid-19 internados em UTI era de 820. O comportamento geral da população há cerca de duas semanas, de acordo com João Marcelo Fonseca, diretor de Atenção Hospitalar da SMS, é um dos fatores que influenciaram nessa redução. Mas o especialista afirma que não há como precisar até quando o indicador continuará em queda.
— As curvas de necessidade de internação de enfermaria comum e de UTI sobem rápido, mas as descidas são em ritmos diferentes. UTIs desocupam mais devagar, o que é normal, pois são pacientes que levam mais tempo para se recuperar. A situação hoje é reflexo do comportamento de duas semanas atrás ou mais. Sabemos que, por algum motivo, como por exemplo as bandeiras pretas ou o medo das UTIs lotadas, as pessoas mudaram seu comportamento e estão transmitindo menos o vírus. Mas precisamos de cautela com relação à pergunta: até quando que vai descer? Vai depender de como as pessoas se comportarem e da parcela de vacinados que teremos — afirma Fonseca.
Patamares de ocupação geral em 80% nas UTIs da Capital não devem ser observados nas próximas semanas, opina Fonseca. Isso porque a previsão é de que, com a diminuição da demanda por internações graves de covid-19, parte das alas e equipes que foram direcionadas ao atendimento desses casos volte a exercer suas funções originais, dando conta de demandas represadas.
— A Capital subiu de 800 leitos de UTI em fevereiro para cerca de mil agora em abril, mas isso foi feito suspendendo cirurgias eletivas, usando salas de recuperação cirúrgica e emergências como se fossem UTIs. Assim, daqui a uma ou duas semanas, se o cenário continuar a melhorar, devemos começar a ver o número de leitos operacionais de UTI baixando, o que significará que profissionais e equipamentos que estavam envolvidos naquele atendimento agora estarão sendo utilizados para atendimentos não-covid represados. Mas, se voltarem a ser necessitados para covid-19, esses leitos poderão ser acionados de novo — projeta Fonseca.