PAPO RETO
Manoel Soares e a guerra de Kevin
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados.
Nesta semana, falei com dona Valquíria, mãe do MC Kevin, e pensei em uma parada séria. Se liga só, a vida de quem nasce nas quebradas é uma constante guerra. Nem sempre é a guerra do tráfico ou essas guerras literais, mas uma guerra pela fuga do destino que dizem ser certo para quem tem chão batido no CEP. Nesta guerra, temos que saber escolher as armas, essa escolha define se seremos soldados rasos ou generais, mas a escolha tem que ser feita.
Alguns, tentando viver intensamente a guerra, morrem antes da primeira batalha. Outros fingem que lutam, mas se escondem nas trincheiras dos sonhos não realizados. Outros confundem bravura com valentia e se colocam na linha de tiro. Um grupo muito comum é o dos que querem medalhas, mas as medalhas, geralmente, são dadas aos heróis que colocam sua vida em risco _ quando fazem isso, as chances de perder tudo são grandes.
Os guerreiros de verdade sabem que o prêmio dessa guerra é ver o sorriso da coroa, enquanto os netos brincam no quintal ao som de um pagode, com a carne na brasa. As favelas do Brasil perderam um guerreiro, um menino que venceu, mas em determinado momento esqueceu que guerreiro não pode baixar a guarda, que não existe comemoração sem vigilância para quem vem de onde viemos.
Kevin realizou o sonho de ver sua mãe feliz e cantar sua quebrada, mas, ao mesmo tempo, a alegria dessa conquista foi vivida tão intensamente que nosso guerreiro baixou a guarda. Na guerra da vida, as batalhas são diárias, e geralmente nas alegrias essas batalhas ficam ainda mais perigosas. Por isso, sejamos guerreiros, inclusive nos momentos de paz.