Daqui a décadas, espero poder contar pros meus netinhos as aventuras da Vó Maga durante a pandemia. Que nunca passei tanto tempo enfiada dentro de casa, logo eu que adorava a rua. Que sonhava com dias melhores, apesar de dormir muito mal. Posso mostrar o dente que quebrei por estresse, mas reforçarei que eu sempre sorria por trás da máscara. Contarei que reaprendi a dar valor para alegrias mínimas, e que criei novos hábitos. Como catar cabelo no chão. Contarei que vovó quase ficou careca? 

É, meus amigos, não tá fácil pra ninguém. Pergunte aos cabeleireiros e dermatos. Estamos literalmente vivendo uma época de arrancar os cabelos. Aliás, nem precisa. Eles caem sozinhos das nossas cabeças. A queda generalizada de cabelo já é sinônimo da pandemia. Bons tempos quando a gente se chocava apenas ao encontrar cabelo na comida. Agora é no pente, escova, box do banheiro, travesseiro, sofá, tapete da sala. Nossos adorados fios estão por toda a parte, menos fixos no couro cabeludo. 

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Em pé

Saudade de procurar cabelo em ovo, e não no chão. Lembra dessa expressão popular? Uma pessoa que procura problemas onde eles não existem (quem nunca?). Ficar de cabelo em pé, seguimos ficando. É só acompanhar as notícias sobre política. Nessas horas, dá vontade de deitar o cabelo (sumir, vazar, desaparecer _ expressão tri gaúcha). Na verdade, minha vontade mesmo é recuperar a cabeleira que eu sempre tive. Hoje em dia, ter cabelo volumoso é luxo. Não reclame mais do seu. 

O engraçado é que me enxerguei em uma planta aqui de casa. Suas folhas eram cheias, lembravam uma farta cabeleira. Inventei de mudar o vaso, e ela se estressou. Deu um efeito calvície profunda. Cada folha murcha que eu arranco é como se fosse um fio de cabelo meu. Mas a gente vai sobreviver. Finalmente notei folhinhas novas no topo da planta. Já o topo da minha cabeça tenho regado com remédio. Vai dar certo. Eu e ela vamos recuperar volume e brilho. Nossa autoestima vai renascer.