PAPO RETO
Manoel Soares: "Uma sociedade sem polícia é onde a barbárie impera"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados.
Uma sociedade sem polícia é onde a barbárie impera. Quem acha que deveríamos acabar com a polícia nunca viveu em uma favela onde a polícia não entra. Volta e meia, ficamos dependo do humor de um menino de 22 anos que chefia o tráfico local. Se ele está a fim de curtir música até as sete da manhã em volume máximo, temos que aceitar. Se ele está mordido com algo e quer que a festa de aniversário de sua vó não aconteça, ele manda parar.
Já conhecia muitos "nego véio" do crime que tratavam as quebradas com respeito e seguiam um "código" da velha escola da bandidagem. Hoje, são raros.
Por outro lado, tem algo de errado com nossas polícias. Eles têm um regulamento a seguir, mas a pancadaria do dia a dia faz alguns ignorarem as diretrizes e agir pior que bandidos. A morte da Kathlen, jovem grávida no Rio de Janeiro, é um exemplo, mas em nosso Estado não vamos longe quando falamos de absurdos. Policiais no Presídio Central agrediram o advogado Ismael Schmitt por acharem que ele não parecia ser advogado. Chegaram a quebrar a carteira dele da OAB sem nem explicar o porquê de tanta violência. Atitudes assim fazem as pessoas fragilizadas estarem mais conectadas aos bandidos que à polícia, o que é um erro, mas também é um fato. A moral é não aplaudir os acertos do crime nem os erros da farda.